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Dicas gerais

[Espaço do leitor] Concurso público e faculdade: Conciliar ou não?

Henrique Araujo
Escrito por Henrique Araujo em dezembro 11, 2016
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Concurso público e faculdade - conciliar ou não?

Bom dia, boa tarde, boa noite e boa madrugada para você que hoje me acompanha na coluna “espaço do leitor” desta semana. O tema não é nada simples, falaremos um pouco a respeito do dilema: Faculdade vs concursos públicos. O que fazer: Privilegiar um em detrimento do outro, buscar um equilíbrio, ir estudando devagar para concursos, adquirir experiências para concursos durante a faculdade… e ai, vale a pena ou não?

Sabe-se que o curso de Direito é uma verdadeira passagem para uma diversidade de oportunidades. Seja na iniciativa privada ou pública, as possibilidades de atuação do operador do direito são diversas. Apesar de ser um fator muito positivo para quem opta pela carreira, surge o entrave acerca do que seguir, o que e quando priorizar determinadas tarefas para obter êxito no meio, que por ser tão vasto, atrai a atenção de muitas pessoas, dentre elas pessoas extremamente dedicadas e obstinadas às suas respectivas carreiras.

Vamos ao e-mail enviado:

Olá ” Diário de um Jurista”!
Escrevo para desabafar e pedir conselhos sobre um assunto : A indecisão que paira na cabeça de muitos estudantes de Direito quanto ao foco em concursos públicos ou atenção integral às disciplinas da Faculdade , aos cursos de extensão e aos projetos para complementação do currículo e incremento do conhecimento acadêmico. Passo por esse dilema e fico nessa insegurança quanto a passar todos os anos de faculdade  me dedicando a ela exclusivamente e ao terminá-la , não ter a experiência necessária em concursos e por isso, demorar mais anos para passar em algum cargo público. Por outro lado, sinto que para ter um currículo competitivo necessito de uma vivência ampla das oportunidades oferecidas pela Universidade. Tento equilibrar os dois projetos  mas considerando que tenho tempo limitado as vezes fico na berlinda tendo que escolher qual dos dois priorizar. O que vale mais a pena?

Pois bem, e lá vamos nós!

Concurso público e Faculdade: Dá pra com uma só cajadada matar dois coelhos?

E lá vamos nós

O primeiro ponto a ser destacado aqui é que para cada cabeça, há uma sentença. É dizer: Não há uma regra fixa devidamente estabelecida para resolver essa questão. Cabe a cada um de nós ponderar, diante dos prós e contras que norteiam a escolha, se vale a pena ou não estudar para concursos públicos em concomitância à graduação do curso de direito.

Como curioso que sou, já vi diversas opiniões diferentes e, nem por isso, incorretas quanto ao fato de estudar pra concurso dentro da faculdade ser proveitoso ou não para o aluno.
Uma das opiniões mais contundentes da corrente que não vê com bons olhos a dupla jornada de estudo para concurso e para a graduação, cito um excelente post de autoria do Professor e Procurador da República Edilson Vitorelli intitulado Para os graduandos: o motivo de se fazer uma boa faculdade. Com a devida licença, menciono aqui o primeiro parágrafo do texto dele:

Eu já disse aqui, mais de uma vez, que minha dica mais importante para um graduando que quer passar em concurso é: faça uma boa faculdade. Nada de fazer cursinho enquanto estuda. No cursinho, a matéria é sempre ministrada com muita rapidez. Se você não tem base suficiente para entendê-la, você vai ter muita dificuldade para acompanhar as aulas. Em outras palavras. O professor de cursinho é como um cara jogando tijolos para você. Se você tiver um alicerce, pode transformá-los em uma parede. Caso contrário, você só leva tijolada na cara. 

Percebe-se que a dica, de forma implícita, aplica-se aos concursos que exigem uma base sólida na área jurídica. Aliás, o foco do Blog do Edilson é justamente em fornecer dicas para concursos públicos em especial para aqueles que se preparam para o certame do MPF – Procurador da República. 
No entanto, para concursos que não exigem tal premissa, a exemplo dos cargos de tribunais que exigem nível médio, não há essa exigência. É perfeitamente possível estudar para eles enquanto se está na graduação, não é à toa que se você der uma garimpada em depoimentos de aprovados nesses concursos, alguns deles foram aprovados no meio ou até mesmo no começo da faculdade. Quando estagiei na justiça federal (TRF – 5ª Região), conheci um servidor chamado Pedro Henrique que havia sido aprovado para o cargo de técnico no 2º semestre do curso de Direito, com 18 anos salvo engano. 
O depoimento dele você ler clicando aqui. Além de muito inteligente, determinado e disciplinado, Pedro é um exemplo também pelo bom humor e educação que exala em todos que têm a oportunidade de trabalhar com ele. Ele estudou apenas 12 semanas e passou em 2º lugar. Um mito, não é mesmo? Há outras histórias semelhantes a do Pedro, a exemplo do Ianh Coutinho, aprovado no TRE-RR com 17 anos e, coincidentemente, também em segundo lugar para o cargo de técnico judiciário. 
Há também histórias de candidatos que conseguiram até mesmo aprovação em concurso de nível superior para tribunais – a exemplo do Fernando Dória – que em seu depoimento conta, dentre outras coisas, que foi aprovado em 1º lugar para o cargo de Oficial de Justiça do TRT, com 25 anos, ainda na faculdade e trabalhando.  Destaco um trecho muito interessante do depoimento do Fernando:

Os primeiros concursos foram muito difíceis. No começo eu não tinha muita ideia de como estudar, qual material usar, é difícil saber até por onde começar. Às vezes você faz uma prova e acha que foi muito bem, mas vê que tem um monte de gente que foi muito melhor que você. Isso era meio frustrante. Eu percebi que se quisesse passar e ser nomeado em algum, eu teria que me dedicar mais pra ter um desempenho excelente, como os primeiros colocados. Aos poucos fui ganhando experiência, aprimorando os métodos de estudo e, principalmente, acumulando conhecimentos.

Observe que ele não foi verde para a prova. Ele já tinha experiência de prova antes, aliás ele já era servidor do TRE-SP na época em que foi aprovado em primeiro lugar no TRT da 15ª Região. 
Porém, mas porém mesmo, não adquirir experiência prévia de concursos durante a faculdade não significa que você não será a provado(a) ou que, conforme o e-mail enviado teme, demorará anos para passar num concurso público. Num excelente e detalhado depoimento disponível no Blog da Concurseira dedicada – parceira nossa – a Júlia Garcia informa como estudou e se organizou para que conseguisse ser aprovada para o cargo de Analista Judiciária do TRT, coincidentemente, da 15ª Região. Foi o primeiro concurso em que ela efetivamente tinha estudado. Ela tinha acabado de colar grau.
Então, passados esses depoimentos – e presumindo que você leu atentamente o depoimento de cada um dos nossos aprovados  elencados no texto – percebe-se que três fatores são primordiais para influenciar na escolha de estudar ou não para concursos dentro da graduação: Tempo, nível do cargo e objetivo:
O tempo é primordial para seja possível levar essa dupla jornada. Afinal, o curso demanda uma carga muito densa de leitura, em tese conforme já mencionei aqui, que acaba esgotando quase todo nosso tempo dedicado aos estudos. No entanto, é preciso ter em mente que a grade curricular da graduação possui as disciplinas jurídicas que são comumente abordadas em certames como, por exemplo, direito penal, constitucional, administrativo, civil, processo civil, trabalho, eleitoral, processo do trabalho e por ai vai. Então se você decidir focar nos estudos da faculdade, indiretamente, estará estudando para concursos também, desde que faça bem feito e efetivamente estude e não decore apenas o que o Prof. passou em sala.

A leitura da lei, da doutrina, da jurisprudência e da resolução de questões é essencial para uma formação de qualidade nas matérias da faculdade de direito. O estudo pra concurso é basicamente a mesma coisa, só que de forma mais técnica e sem tanta teoria como vemos no curso. Você não está perdendo seu tempo se decidir estudar com foco numa boa formação, desde que saiba o que isso significa e arregace as mangas pra atingir um bom nível nessas disciplinas. Não esmoreça!

Outro fator primordial a ser levado em conta é o nível do cargo. O curso de Direito oferece um leque muito grande de oportunidades a serem exploradas, especialmente quanto aos concursos públicos. Da mesma forma que existem cargos que exigem, além da formação em direito, três anos de prática jurídica, existem cargos que nem nível superior é necessário para prestar.

O grande exemplo é o cargo de técnico judiciário, cargo muito observado pelo pessoal que está na graduação e que deseja ocupar um cargo público enquanto a formatura não chega ou até mesmo permanecer nele até o fim, pois a remuneração, qualidade de vida e estrutura da carreira são muito interessantes, especialmente os da área federal (Pedro e Ianh passaram para área federal, um no TRF e outro no TRE). 

Por último, e não menos importante, é preciso levar em consideração o objetivo de cada um. Vi que no seu e-mail há uma dupla preocupação: A formação de currículo robusto quanto à graduação e a questão dos concursos públicos. São duas coisas distintas. Geralmente quem se preocupa muito com uma formação regada à prática de bons projetos de pesquisa e extensão são alunos(as) voltados(as) justamente para essa área, isto é, que pretendem seguir a carreira da pesquisa, futuramente com foco na docência… E ai começa uma iniciação científica, monitoria, projetos de pesquisa… Mas sinceramente se o objetivo é passar num concurso público, estas tarefas além de sugarem grande parte de seu tempo, não serão proveitosas para o que você deseja. Então seria interessante sentar consigo mesmo(a) e refletir sobre o plano de curto e longo prazo a ser seguido.

Eu, por exemplo, preferi focar numa boa formação na área de pesquisa, pois pretendo lecionar e futuramente prestar um cargo que exige uma base muito boa do curso. Por isso desde o primeiro ano da faculdade fiz iniciação científica, projetos de pesquisa, fui coautor de um livro, fiz monitoria, enfim, essas atividades são extremamente úteis para meu objetivo. Porém, se o que eu realmente quisesse fosse passar logo num concurso, dificilmente participaria desses projetos, pois literalmente teve época em que ficava neles o dia inteiro. Sem contar os congressos, seminários e relatórios de apresentação.

Então, diante desse breve introdutório, podemos concluir algumas premissas básicas:

Dedicação é o que interessa, o resto não tem pressa!

Dedicação é o que interessa, o resto não tem pressa!

Dedicação vale muito mais que experiência de prova numas situações, enquanto experiência de prova vale tão quanto a dedicação em outras: O que irá se sobressair dependerá muito de cada pessoa. Veja que trouxemos exemplos de candidatos que obtiveram êxito logo no começo da faculdade, sem experiência alguma inclusive da própria graduação.

Porém, tiveram uma dedicação militar e foram felizes em seus objetivos. Por sua vez, vimos também que há casos em que a experiência de prova foi fator primordial para o êxito num concurso maior. E isso você pode adquirir antes ou depois da faculdade, desde que se mantenha estudando. Veja que a questão é muito subjetiva, cada um tem o seu tempo.

Da mesma forma que você pode guiar seu caminho desde o começo focando nos concursos, é perfeitamente possível fazer isso depois do curso também. As histórias listadas aqui são apenas alguns dos inúmeros exemplos do quão subjetivo é o caminho rumo ao êxito na área pública. A única coisa aqui que não é subjetiva é a necessidade de possuir determinação e efetivamente por a mão na massa pra estudar. Isso é imprescindível, seja você calouro(a), veterano(a) ou formado(a).

Priorizar a faculdade nunca será uma atitude errada. Mas se o dever de casa não foi feito, ainda dá tempo de fazer!

ainda dá tempo de fazer

Priorizar a faculdade nunca será uma atitude errada. Quando falo em priorizar a faculdade, me refiro tanto ao fato de estar engajado(a) com os projetos de pesquisa e extensão ou simplesmente pelo fato de levar a sério, estudar com afinco as matérias da grade curricular. Grande parte das matérias do curso de Direito fazem parte da grade de disciplinas cobradas nos mais variados concursos públicos. Então, querendo ou não, você estará formando sua base de estudos para futuramente começar a lapidar o conhecimento para extrair dele o que efetivamente é cobrado nos certames.

Aliás, como bem disse o Prof. Vitorelli, isso ganha contorno ainda mais importante caso pretenda os concursos do topo do meio jurídico, a exemplo do MPF e Magistratura. O que vejo atualmente, principalmente em grupos de estudos, é gente lendo coisas que poderiam ter sido lidas na época da faculdade, ou seja, fazendo a base depois de concluir a graduação. É errado? Não, mas esse tempo poderia ter sido poupado com estudo mais minucioso na época da graduação. Do contrário, o que resta é fazer o dever de casa, antes tarde do que mais tarde. É como dizem por ai… Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo, qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim.

Ah sim, lembrei aqui de uma lição que aprendi assistindo uma aula do João Paulo Lordelo, Procurador da República (aprovado em 1º lugar), Professor de um grande curso preparatório para áreas federais e que atualmente figura como um dos grandes nomes quando o assunto é preparação para concursos públicos, em especial dos da área federal. Lembro muito bem dele ter desmistificado o concurso do MPF, que é tido por muitos como o mais difícil do Brasil.  De acordo com a experiência do Prof., tanto o MPF quanto os mais variados certames são de fato difíceis, mas vale mais a dedicação em si do que ter feito ou não uma boa faculdade. Até porque você terá três longos anos pra ir se preparando para um concurso desse nível (o MPF, assim a magistratura, DPU, PFN, MP, entre outros, exige três anos de atividade jurídica de seus candidatos), tempo razoável para dar um gás e conquistar seus objetivos.

Obviamente que uma boa base faz diferença, como bem destacou o Eduardo Gonçalves – outra grande autoridade no assunto e também Procurador da República – em artigo versando sobre o tempo médio até a aprovação. Aliás, a implicação maior de fazer ou não uma boa base na faculdade repercute justamente no tempo necessário para conseguir a aprovação. O próprio Eduardo postou um depoimento, muito descontraído por sinal, de uma agora Promotora de Justiça contando sua saga até a nomeação e destacando que se tivesse feito uma boa base passaria mais rápido, mas de qualquer forma teve dedicação suficiente pra dar a volta por cima e lograr êxito em seu objetivo. Portanto, enquanto existir HBC, não será tarde pra correr atrás do preju!

Conclusão: Estudar sempre, passar de primeira talvez, desistir nunca!

Conclusão: Estudar sempre, passar de primeira talvez, desistir nunca!
Sob o olhar atento dos argumentos de autoridades do assunto preparação para concursos públicos, bem como observando cases de sucesso, podemos concluir que existem uma série de fatores que precisam ser levados em conta quando o assunto é a hipotética preparação em dupla jornada para quem optar estudar para concursos públicos em concomitância com os estudos da graduação.

Vimos que os fatores tempo, objetivo e nível do cargo precisam demais serem levados em conta caso você de fato cogite iniciar sua preparação para algum dos mais variados certames que envolvem as matérias jurídicas. Vimos também até que ponto vai a importância de construir uma boa base de estudos dentro dos cinco anos de curso, para não dar, conforme o jargão popular, um passo maior que a perna. No entanto, foi demonstrado também que existem cargos nos quais é perfeitamente possível lograr êxito antes mesmo de colar grau.

Em resumo, o fator dedicação é  o que de fato sedimenta a questão. Seja antes ou depois da faculdade, a dedicação aplicada será reembolsada futuramente, mais cedo ou mais tarde. Seja ela investida em projetos de pesquisa ou em livros, apostilas e cursos especializados em concursos públicos. Bons estudos!

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