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Diário de Leitura

Diário de leitura: A vida não é justa.

Henrique Araujo
Escrito por Henrique Araujo em julho 17, 2015
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Inauguro hoje uma coluna bem no jeitão diário mesmo. Irei compartilhar aqui as minhas leituras jurídicas e não jurídicas. Começo hoje com um livro que estou quase acabando, falta bem pouco, pouquinho mesmo, mas que já me cativou e me tornou fã da autora.
Eu gosto de imaginar que existe vida fora das doutrinas jurídicas. Por conta disso, gosto de ler sobre temáticas diferentes do que vejo nas minhas leituras “profissionais” – que gosto bastante e que falarei delas também por aqui. Contudo, tenho um apreço muito grande pelas leituras “extras” também. Não sei como funciona com você, mas comigo é um verdadeiro bálsamo, gosto de relaxar a mente viajando no mundo as letras e enredos. De vez em quando, até na leitura extra eu procuro alguma temática que tenha nexo direto com o direito – até mesmo para ter uma visão diferente da acadêmica, uma visão mais palpável digamos assim.
O livro de hoje é um desses que você tem que ler antes de dormir. Estamos falando do realista “A vida não é justa” de autoria da Juíza Andreá Pachá. O livro é excelente, conta a partir da visão de uma magistrada que sabe, como poucos autores, utilizar os apetrechos narrativos como estradas sob quais passam nada mais nada menos que a boa e velha vida real. 

A rotina de uma sala de audiência na qual são julgados casos de família – desculpe o trocadilho – ganha um retoque especial por conta da forma intensa e transcendental da narrativa. Aquele lugar monótono, frio e sem vida perde todas essas características estigmatizadas com a chegada dos dilemas dos casais. 

Podemos notar no livro o desenrolar da vida real, do que se passa entre as 4 paredes da sala de audiência de uma vara de família sem mais retoques do que o necessário. As nuances sentimentalistas, a lavação de roupa suja, as tentativas – frustradas ou não – de uma das partes tentar reaver a relação são apenas alguns dos exemplos que fazem com que a excelentíssima magistrada dê vida à lei, diga o direito, aplicando-o ao caso concreto. 
Para nós, estudantes e operadores do direito, é muito interessante ter essa visão de ver nascer no caso concreto a necessidade de aplicação da lei e, muito mais ainda, vermos que nem sempre sua aplicação, por mais que seja legal, não gera o sentimento de justiça naquela relação que depende muito mais da entrega mútua das partes do que de uma sentença com ou sem resolução de mérito.
 O bom senso muitas vezes é bem mais eficaz e justo que a aplicação legal, e a aplicação da letra da lei em junção com o bom senso, ao menos é bem mais eficaz que a aplicação descabida e sem critérios. O operador do direito é um ser humano assim como quem ele julga, defende ou acusa, a diferença é que seu nível de empatia deve ser muito maior, é um destino que está em suas mãos, afinal. No livro veremos preciosas decisões jurídicas e humanas aplicadas pela Andréa. São verdadeiras lições de aprendizado para nós, que um dia estaremos no mesmo posto dela ou em postos semelhantes. 
Por mais que tentemos fazer diferente, num relacionamento as decisões são tomadas a dois. Menos que isso é individualismo e individualismo por si só não sustenta uma relação. Você não precisa ler um livro pra saber disso, mas nele você vê como isso ocorre de diversas formas diferentes na vida real.

Em diversos trechos do livro nota-se a preocupação da autora em não usar de seu juízo de valor íntimo – desculpe o pleonasmo – na tentativa de dirimir os conflitos existentes ali em sua sala de audiências. Além disso, percebe-se também o quanto corrosivo é o sentimento da sociedade em achar que o judiciário tem a obrigação de dirimir todo e qualquer conflito, por conta da incapacidade pessoal de cada um que não consegue, ou até mesmo não quer ou nem tenta, conversar, dialogar, procurar pontos em comum e soluções menos doloridas que uma sentença.

Constatamos esse sentimento falacioso no trecho que um casal veio à Juíza porque simplesmente não se entendia em relação ao colégio que seu filho deveria estudar – sendo que o que um queria era bom e o que o outro ex-cônjugue queria também era bom. A posição fenomenal da Juíza neste que é apenas um dos diversos casos descritos no livro não contarei aqui para não dar spoiler, mas em minha opinião foi a melhor possível. Depois volte e me diga se não foi! hehehehe

Enfim, o livro é excelente e mostra a realidade nua e crua dos tribunais e os percalços que a magistrada passou e mais ainda, o desenrolar da problemática muitas vezes em decorrência de um sentimento frustrado, de um amor que nunca existiu, ficando à mercê de uma sentença para declarar quem estava certo e quem estava errado. 

Para quem pretende vestir a toga da magistratura, é um bom presságio – principalmente para os futuros militantes do direito das famílias – e as lições dadas a partir dos posicionamos humanistas e, ao mesmo tempo pautados na lei, emanados da ilustre Andréa Pachá são verdadeiros ensinamentos para analisarmos nossa vida pessoal também. 
Aprendemos o que podemos fazer para evitar que tenhamos os mesmos fins dos casos julgados pela Juíza e também fazer por onde olharmos com mais humanidade para a realidade e aceitar que nem tudo é perfeito e que todo começo tem o seu fim – cabendo à nós e às nossas atitudes tentarmos prolongar esse começo até a medida do possível – sabendo que nem sempre isso é possível. É, a vida não é justa! Mas isso não nos impede de torna-la menos amarga, medíocre e sem perspectiva. Ela demonstrou como ninguém que julga-se o processo e não a pessoa – conforme os limites de cada um.

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