O trabalho de conclusão de curso é uma das últimas tarefas da graduação. É, também, o tema de hoje de nossa coluna pedido do leitor. Trata-se de espaço reservado única a exclusivamente para respondermos e-mails dos (as) queridos (as) jusamigos (as) espalhados por esse Brasil.
Na verdade, Jusamigas. Quase todos os e-mails, dúvidas e comentários que recebo são provenientes do público feminino. As mulheres dominaram o direito. Inclusive esse e-mail é de uma querida seguidora/leitora.
O e-mail recebido ontem possui o seguinte teor:
Bom dia !!! Sou estudante de Direito e gostaria de dicas para me dedicar aos estudos e provas com facilidade, e também dicas para um TCC formal.
Att.
B. A.
Atenciosamente,
B.A.B
Quanto ao modo de estudo direcionado para provas, recomendo e leitura dos seguintes textos do blog.
- Planejamento de estudos: Estudar bem não é estudar muito
- Cilo EARA: Como desenvolver um estudo de alto rendimento
- De estudante de direito para estudante de direito
O enfoque do texto de hoje estará no segundo ponto do e-mail, qual seja, dicas para elaborar um bom TCC. O presente texto não tem por objetivo esgotar a abordagem do assunto, pretendo elaborar futuramente um material mais denso sobre o tema.
No momento, apontarei 05 aspectos imprescindíveis para um bom desenvolvimento de um trabalho de conclusão de curso. Vamos lá.
1. Escolha uma área com maior afinidade/domínio
Um erro bastante recorrente que percebo acerca desse assunto está na ansiedade em busca de um tema antes de o(a) pesquisador(a) verificar uma preliminar essencial: afinidade com a área.
Atentar-se à afinidade com a área é mais essencial que a afinidade com o tema. Este é consequência daquele, não o contrário. Se você não curte direito penal, por exemplo, dificilmente irá se interessar por algum ponto desta área para passar um bom tempinho pesquisando.
Além disso, um tema de área que você tem um bom pré-conhecimento vai poupar tempo no estudo. Parece bobeira, mas poucos(as) prestam atenção nisso.
Por isso escolhi direito constitucional para meu TCC. É minha matéria favorita. Isso sem dúvidas foi imprescindível para minha nota máxima e a posterior publicação dele.
Antes de queimar suas pestanas em busca de um tema para chamar de seu, preocupe-se em buscar em si mesmo(a) a ciência da área do direito que mais te chama atenção. Isso facilitará bastante tanto o desenvolvimento do trabalho quanto a escolha do seu tema.
A primeira pesquisa é a interna.
2. Seja extremamente criterioso(a) com as fontes utilizadas
O TCC, seja monografia ou artigo científico, constitui um trabalho notadamente técnico. Em que pese muitos não possuírem essa qualidade acadêmica, dado o fato do estelionato educacional cujo curso de direito é uma das vítimas, eu vou presumir aqui que você levará a sério o seu trabalho e não o verá apenas como um trabalho em que você tem que escrever X folhas.
Um(a) pesquisador(a) minimamente preparado deve ter toda atenção do mundo para as fontes utilizadas em sua abordagem acadêmica. A principal delas sem dúvida reside nos livros.
Quanto a eles é muito interessante privilegiar os volumes, cursos e tratados e só utilizar manuais em última hipótese. Manuais costumam ser mais generalistas que os demais livros, portanto não costumam aprofundar temas, mas sim informam um breve estado da arte dos institutos.
Contudo, nem só de livro viverá o homem. Atualmente temos na internet um rico acervo qualitativo de trabalhos acadêmicos dignos de menção. Porém, nem tudo que está na internet faz jus à uma menção em trabalho técnico.
É perfeitamente possível redigir um TCC (artigo ou monografia) utilizando material da internet. Quais materiais? Artigos, teses e monografias de periódicos científicos ou repositórios de instituições educacionais.
Você pode conferir a lista completa e a nota qualitativa desses periódicos acessando a plataforma CAPES clicando aqui.
Não precisa ignorar a internet para redigir um bom trabalho, use de forma inteligente e criteriosa.
3. Escreva para ser lido, não simplesmente para cumprir tabela
Isso serve para qualquer um que deseje usar da escrita. Um defeito latente que percebo, especialmente em trabalhos acadêmicos, é o esforço que muitos (as) fazem para não serem compreendidos (as).
Como criticar é muito fácil, darei aqui alguns toques para deixar seu texto leve como a brisa do mar e saboroso como aquele sorvete de frutas sem lactose tomado num verão escaldante.
Introdução é para introduzir. Use a introdução para apresentar o tema, não para adentrar no mérito em si. Informe o assunto, a relevância de abordar esse assunto, o método de pesquisa utilizado, como será feita a divisão do trabalho nos tópicos seguintes e nas considerações finais.
Dê ao seu leitor a possibilidade de visualizar o seu trabalho por inteiro. Após instigar, aguçar o paladar do leitor através da entrada, ai sim você começa a de fato apresentar o prato principal, a abordagem do assunto propriamente dito. Por isso evite ao máximo, aqui, usar citações, especialmente as diretas.
Use sentenças curtas e parágrafos curtos. A leitura visual da banca conta bastante. Não há nada mais desestimulante que dar de cara um texto que cada parágrafo possui 20 linhas. Um absurdo. Dificilmente alguém além de sua banca irá apreciar. Só a banca porque ela está sendo obrigada e olhe lá.
Cite realmente o que realmente é necessário. Esse é um problema bastante recorrente que verifico em trabalhos acadêmicos do pessoal do direito. Se o seu interesse ao mencionar um julgado está num pequeno trecho dele, cite apenas o trecho, substituindo o que vier antes/depois por colchetes […]. A mesma observação serve para citações de doutrina.
Assim evita a tragedia de citar um julgado que ocupa simplesmente METADE de uma folha ou até mesmo a folha inteira. Isso é horrível. Muitos praticam esse péssimo ato até mesmo para preencher logo o número de folhas mínimas exigidas pela universidade. Isso já entrega o nível de comprometimento e dedicação do(a) aluno(a) quando da elaboração do trabalho. O segredo está nos detalhes.
Existem outros pontos que mereciam destaque, mas só a observância desses já garante que seu texto terá uma boa cadência e não terá uma leitura truncada, facilitando sua leitura e fazendo a alegria de todos que forem lê-lo, inclusive a banca examinadora.
4. As normas da ABNT não são esse bicho de sete cabeças
Gente, estamos na era da internet. Internet está ai para ser usada. Até tutorial passo-a-passo há no youtube explicando devagarinho como formatar o trabalho. Seja no word, seja no libreoffice.
Caso o tempo esteja corrido, há sites que formatam automaticamente. Assim como existem profissionais dedicados para isso.
Inclusive eu recomendo sempre que você passe seu TCC para alguém ler antes de apresentar, não precisa necessariamente ser um profissional, mas alguém que possa verificar inclusive erros de ortografia que passam batidos.
Se no meio disso puder ver errinhos de ABNT, melhor ainda. No entanto, se essa pessoa não existir em sua vida, a recomendação é deixar seu trabalho de molho, ou seja, ficar alguns dias sem tocar nele, e depois proceder a leitura. Você irá constatar erros que não percebeu enquanto estava elaborando. É perfeitamente normal.
5. Evite ao máximo o uso de subterfúgios no momento da apresentação
Talvez esse seja um dos traços mais marcantes que eu percebo por parte do pessoal do TCC: A má qualidade da apresentação do trabalho.
Em algumas instituições, a apresentação do trabalho compõe a nota do TCC, não apenas o conteúdo dele. Nesses casos o cuidado com a apresentação é ainda maior. Ou deveria ser.
Pessoal vai todo na beca, terno, blazer, aquelas roupas sociais que fazem um baita calor, para no momento da apresentação não conseguir sequer ter segurança para explicar para a banca algo que, em tese, foi estudado (ou deveria ser) em meses (ai a necessidade de afinidade/domínio, lembra?).
A esmagadora maioria peca nesse ponto. Muitos usam papelzinho, slide e outros subterfúgios para explicar o seu trabalho. Particularmente considero o uso de QUALQUER ferramenta que não seja o seu gogó (fala, oratória) algo que mais irá atrapalhar do que ajudar. Que mais advoga contra do que a favor.
Até agora nunca vi um(a) aluno(a) que domina de fato o seu tema precisar disso. Geralmente o pessoal que faz uso de papel/slide costuma não dominar o assunto e reza com todas as forças para que a banca não abra a boca para perguntar nada.
Evite esse problema: estude o seu trabalho. Ensaie a sua apresentação. O tempo dado não costuma ser maior que 10 minutos. Você não tem que dar uma aula, tem apenas que mostrar a relevância do seu tema, como pesquisou, qual foi o problema abordado e qual foi a conclusão de sua pesquisa. Isso pode ser explicado em menos de 10 minutos.
Você pode até guardar um roteiro e deixar ali na reserva para conseguir engrenar caso bata aquele branco. Deixe ali para um caso de emergência, para servir de gancho apenas! Nada de ficar recitando papelzinho. Mas se não bater, deixe lá. Finja que ele não existe.
Se você não estudar, a insegurança será ainda mais brutal e de fato o uso do papel/slide será sua fuga.
Não esqueça: é seu último ato como graduando(a). Será que não merece uma apresentação digna? Não merece que você de fato ensaie, estude a apresentação? Não merece que você de fato justifique o uso daquelas vestimentas chiquérrimas e calorosas? Do que adianta o terninho e blazer se ao abrir a boca não sai nada minimamente consciente que não precise de papel para ser dito?
Estude que a confiança vem. Vá por mim. Palavras de um dos caras mais tímidos da turma e que não usou papelzinho nem pra caso de bater branco. Desejo sucesso pra ti, conte comigo, ok? Meu E-mail está sempre de “portas abertas”. Vamos que vamos. Até a próxima.
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