Bom dia, boa tarde, boa noite e boa madrugada para você que hoje me acompanha na coluna “espaço do leitor” desta semana. O tema não é nada simples, falaremos um pouco a respeito do dilema: Faculdade vs concursos públicos. O que fazer: Privilegiar um em detrimento do outro, buscar um equilíbrio, ir estudando devagar para concursos, adquirir experiências para concursos durante a faculdade… e ai, vale a pena ou não?
Vamos ao e-mail enviado:
Olá ” Diário de um Jurista”!
Escrevo para desabafar e pedir conselhos sobre um assunto : A indecisão que paira na cabeça de muitos estudantes de Direito quanto ao foco em concursos públicos ou atenção integral às disciplinas da Faculdade , aos cursos de extensão e aos projetos para complementação do currículo e incremento do conhecimento acadêmico. Passo por esse dilema e fico nessa insegurança quanto a passar todos os anos de faculdade me dedicando a ela exclusivamente e ao terminá-la , não ter a experiência necessária em concursos e por isso, demorar mais anos para passar em algum cargo público. Por outro lado, sinto que para ter um currículo competitivo necessito de uma vivência ampla das oportunidades oferecidas pela Universidade. Tento equilibrar os dois projetos mas considerando que tenho tempo limitado as vezes fico na berlinda tendo que escolher qual dos dois priorizar. O que vale mais a pena?
Pois bem, e lá vamos nós!
Concurso público e Faculdade: Dá pra com uma só cajadada matar dois coelhos?
O primeiro ponto a ser destacado aqui é que para cada cabeça, há uma sentença. É dizer: Não há uma regra fixa devidamente estabelecida para resolver essa questão. Cabe a cada um de nós ponderar, diante dos prós e contras que norteiam a escolha, se vale a pena ou não estudar para concursos públicos em concomitância à graduação do curso de direito.
Eu já disse aqui, mais de uma vez, que minha dica mais importante para um graduando que quer passar em concurso é: faça uma boa faculdade. Nada de fazer cursinho enquanto estuda. No cursinho, a matéria é sempre ministrada com muita rapidez. Se você não tem base suficiente para entendê-la, você vai ter muita dificuldade para acompanhar as aulas. Em outras palavras. O professor de cursinho é como um cara jogando tijolos para você. Se você tiver um alicerce, pode transformá-los em uma parede. Caso contrário, você só leva tijolada na cara.
Os primeiros concursos foram muito difíceis. No começo eu não tinha muita ideia de como estudar, qual material usar, é difícil saber até por onde começar. Às vezes você faz uma prova e acha que foi muito bem, mas vê que tem um monte de gente que foi muito melhor que você. Isso era meio frustrante. Eu percebi que se quisesse passar e ser nomeado em algum, eu teria que me dedicar mais pra ter um desempenho excelente, como os primeiros colocados. Aos poucos fui ganhando experiência, aprimorando os métodos de estudo e, principalmente, acumulando conhecimentos.
A leitura da lei, da doutrina, da jurisprudência e da resolução de questões é essencial para uma formação de qualidade nas matérias da faculdade de direito. O estudo pra concurso é basicamente a mesma coisa, só que de forma mais técnica e sem tanta teoria como vemos no curso. Você não está perdendo seu tempo se decidir estudar com foco numa boa formação, desde que saiba o que isso significa e arregace as mangas pra atingir um bom nível nessas disciplinas. Não esmoreça!
O grande exemplo é o cargo de técnico judiciário, cargo muito observado pelo pessoal que está na graduação e que deseja ocupar um cargo público enquanto a formatura não chega ou até mesmo permanecer nele até o fim, pois a remuneração, qualidade de vida e estrutura da carreira são muito interessantes, especialmente os da área federal (Pedro e Ianh passaram para área federal, um no TRF e outro no TRE).
Eu, por exemplo, preferi focar numa boa formação na área de pesquisa, pois pretendo lecionar e futuramente prestar um cargo que exige uma base muito boa do curso. Por isso desde o primeiro ano da faculdade fiz iniciação científica, projetos de pesquisa, fui coautor de um livro, fiz monitoria, enfim, essas atividades são extremamente úteis para meu objetivo. Porém, se o que eu realmente quisesse fosse passar logo num concurso, dificilmente participaria desses projetos, pois literalmente teve época em que ficava neles o dia inteiro. Sem contar os congressos, seminários e relatórios de apresentação.
Então, diante desse breve introdutório, podemos concluir algumas premissas básicas:
Dedicação é o que interessa, o resto não tem pressa!
1º Dedicação vale muito mais que experiência de prova numas situações, enquanto experiência de prova vale tão quanto a dedicação em outras: O que irá se sobressair dependerá muito de cada pessoa. Veja que trouxemos exemplos de candidatos que obtiveram êxito logo no começo da faculdade, sem experiência alguma inclusive da própria graduação.
Porém, tiveram uma dedicação militar e foram felizes em seus objetivos. Por sua vez, vimos também que há casos em que a experiência de prova foi fator primordial para o êxito num concurso maior. E isso você pode adquirir antes ou depois da faculdade, desde que se mantenha estudando. Veja que a questão é muito subjetiva, cada um tem o seu tempo.
Da mesma forma que você pode guiar seu caminho desde o começo focando nos concursos, é perfeitamente possível fazer isso depois do curso também. As histórias listadas aqui são apenas alguns dos inúmeros exemplos do quão subjetivo é o caminho rumo ao êxito na área pública. A única coisa aqui que não é subjetiva é a necessidade de possuir determinação e efetivamente por a mão na massa pra estudar. Isso é imprescindível, seja você calouro(a), veterano(a) ou formado(a).
Priorizar a faculdade nunca será uma atitude errada. Mas se o dever de casa não foi feito, ainda dá tempo de fazer!
2º Priorizar a faculdade nunca será uma atitude errada. Quando falo em priorizar a faculdade, me refiro tanto ao fato de estar engajado(a) com os projetos de pesquisa e extensão ou simplesmente pelo fato de levar a sério, estudar com afinco as matérias da grade curricular. Grande parte das matérias do curso de Direito fazem parte da grade de disciplinas cobradas nos mais variados concursos públicos. Então, querendo ou não, você estará formando sua base de estudos para futuramente começar a lapidar o conhecimento para extrair dele o que efetivamente é cobrado nos certames.
Aliás, como bem disse o Prof. Vitorelli, isso ganha contorno ainda mais importante caso pretenda os concursos do topo do meio jurídico, a exemplo do MPF e Magistratura. O que vejo atualmente, principalmente em grupos de estudos, é gente lendo coisas que poderiam ter sido lidas na época da faculdade, ou seja, fazendo a base depois de concluir a graduação. É errado? Não, mas esse tempo poderia ter sido poupado com estudo mais minucioso na época da graduação. Do contrário, o que resta é fazer o dever de casa, antes tarde do que mais tarde. É como dizem por ai… Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo, qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim.
Ah sim, lembrei aqui de uma lição que aprendi assistindo uma aula do João Paulo Lordelo, Procurador da República (aprovado em 1º lugar), Professor de um grande curso preparatório para áreas federais e que atualmente figura como um dos grandes nomes quando o assunto é preparação para concursos públicos, em especial dos da área federal. Lembro muito bem dele ter desmistificado o concurso do MPF, que é tido por muitos como o mais difícil do Brasil. De acordo com a experiência do Prof., tanto o MPF quanto os mais variados certames são de fato difíceis, mas vale mais a dedicação em si do que ter feito ou não uma boa faculdade. Até porque você terá três longos anos pra ir se preparando para um concurso desse nível (o MPF, assim a magistratura, DPU, PFN, MP, entre outros, exige três anos de atividade jurídica de seus candidatos), tempo razoável para dar um gás e conquistar seus objetivos.
Obviamente que uma boa base faz diferença, como bem destacou o Eduardo Gonçalves – outra grande autoridade no assunto e também Procurador da República – em artigo versando sobre o tempo médio até a aprovação. Aliás, a implicação maior de fazer ou não uma boa base na faculdade repercute justamente no tempo necessário para conseguir a aprovação. O próprio Eduardo postou um depoimento, muito descontraído por sinal, de uma agora Promotora de Justiça contando sua saga até a nomeação e destacando que se tivesse feito uma boa base passaria mais rápido, mas de qualquer forma teve dedicação suficiente pra dar a volta por cima e lograr êxito em seu objetivo. Portanto, enquanto existir HBC, não será tarde pra correr atrás do preju!
Conclusão: Estudar sempre, passar de primeira talvez, desistir nunca!
Vimos que os fatores tempo, objetivo e nível do cargo precisam demais serem levados em conta caso você de fato cogite iniciar sua preparação para algum dos mais variados certames que envolvem as matérias jurídicas. Vimos também até que ponto vai a importância de construir uma boa base de estudos dentro dos cinco anos de curso, para não dar, conforme o jargão popular, um passo maior que a perna. No entanto, foi demonstrado também que existem cargos nos quais é perfeitamente possível lograr êxito antes mesmo de colar grau.
Em resumo, o fator dedicação é o que de fato sedimenta a questão. Seja antes ou depois da faculdade, a dedicação aplicada será reembolsada futuramente, mais cedo ou mais tarde. Seja ela investida em projetos de pesquisa ou em livros, apostilas e cursos especializados em concursos públicos. Bons estudos!
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