História, filosofia, política, psicologia e religião. Essas são as cinco palavras-chaves que, tranquilamente, resumem a obra O médico da humanidade e a cura da corrupção, de autoria do festejado escritor Augusto Cury.
O livro que será o centro de nossas atenções na resenha de hoje, coincidentemente, tem a ver com o direito. Aliás, o que não ter a ver, não é mesmo?
A obra narra a história de um renomado advogado criminalista que decide tentar a candidatura ao cargo de Presidente da República, após sucessivas tentativas vitoriosas em outros cargos políticos.
O enredo do contexto do livro é muito interessante. Tudo começa num voo em que o personagem principal, o Advogado e presidenciável Napoleão Anacleto de Alcântara Filho encontra um misterioso personagem cuja identidade – até o último capítulo – resume-se ao pelido de “H“, cuja significação só será descoberta nas folhas finais.
O desenvolver dos fatos é bem diferente de uma narrativa comum. Percebe-se a contribuição do grande domínio do autor dentro de temas como história, filosofia, psicologia e religião para conceder a esse desenvolvimento algo a mais que uma mera narrativa.
Fatos históricos e suas repercussões na narrativa do médico da humanidade
A todo momento o leitor é convidado a refletir sobre temas sensíveis da vivência humana através das amarguras psicológicas vivenciadas por Napoleão.
O misterioso personagem possui poderes capazes de voltar ao passado com seu companheiro de viagem para visitar trechos sensíveis da história da humanidade.
A finalidade? Demonstrar a influência deles tanto na sociedade quanto em nossa vida íntima.
É nítido o convite frequente que a história nos faz para refletirmos sobre acontecimentos que mudaram a história da humanidade.
O autor traz aspectos filosóficos, históricos e psicológicos dos bastidores desses acontecimento, ao mesmo tempo em que insere nosso personagem dentro dos ocorridos.
O que me chamou muita atenção foi justamente essa abordagem mesclada de história, filosofia e psicologia feitas com acontecimentos centrais da humanidade como plano de fundo.
O nazismo, a revolução francesa, a morte de Jesus Cristo – com análise do julgamento e comportamento do tribunal que o condenou -, o julgamento de Sócrates, entre diversos outros marcos históricos são contextualizados na obra.
O destaque fica para a minúcia de detalhes que cada passagem histórica é abordada, especialmente as características dos grandes personagens que marcaram cada época que compõe as inúmeras viagens de Napoleão com seu mestre e mentor.
Cada abordagem dessa tem por objetivo ajudar Napoleão a encontrar o seu próprio eu, perdido em virtude do fato dele não ter conseguido equilibrar o sucesso da vida pública com o fracasso de sua vida privada.
Napoleão, há cada passagem e diálogo, passa por um constante processo de autoconhecimento cujo final é simplesmente espetacular.
A descoberta da identidade do personagem misterioso (o “H“) ao final da narrativa dá todo um ar de coesão ao enredo abordado.
O tempo todo eu lia na expectativa de identificar quem de fato esse personagem simbolizaria.
A narrativa é feita por discurso direto. O personagem principal chega a dialogar com os figurões da história da humanidade.
E o resultado desses diálogos, junto com a análise deles proporcionada pelo mentor através do método maiêutico é simplesmente sensacional.
É inegável, também, a presença do aspecto religioso em diversos trechos do livro, o que não chega a caracterizá-lo como um livro do gênero gospel.
A religiosidade é abordada de forma, digamos assim, mais racional. Até porque grandes passagens da história possuem um nítido caráter de influência religiosa.
Como por exemplo, cito duas: No julgamento de Sócrates, um dos três argumentos para sua condenação residia na imputação de ofensa do filósofo aos deuses da antiga Grécia.
Outra passagem está na ocorrência do julgamento de Jesus Cristo, que dispensa maiores explicações quanto à sua natureza religiosa, por questões óbvias.
Outra coisa que torna a narrativa interessante é que tudo isso se passa concomitantemente ao desgastante momento em que Napoleão tenta a eleição para o cargo de Presidente da República.
As lições aprendidas com essas viagens são nitidamente utilizáveis no cotidiano do personagem, que enfrenta grande resistência para implementar o seu aprendizado misterioso, inclusive resistência por parte dele mesmo.
Napoleão Anacleto de Alcântara Filho: temos um pouco dele em algum aspecto de nossa vida?
O personagem principal do enredo é um advogado de muito sucesso no âmbito criminal e político, tanto é que o grande objetivo dele no momento da história é conseguir ocupar a função mais importante do poder executivo federal.
No entanto, a personalidade forte e inabalável que nosso personagem demonstra possuir vai se desnudando com o passar das lições aprendidas com seu mentor “H”.
E através dessas lições, Napoleão Anacleto vai descobrindo que há coisas, pessoas e acontecimentos que fazem parte de sua vida cuja importância foi relegada ao segundo plano.
A narrativa expõe diversos problemas pessoais do presidenciável que podem facilmente serem presentes em qualquer pessoa: Medo do fracasso, ansiedade, ausência de empatia, prepotência, depressão – tema muito contextualizado durante todo o livro, inclusive -, ausência de prioridades no que realmente merecia ser prioridade, entre outros.
O ponto positivo dele descobrir ter todos esses problemas está em justamente ter ciência deles para assim poder tentar repará-los.
Parafraseando uma passagem do livro na parte em que o personagem toma ciência de sua mortalidade e falibilidade como pessoa: O primeiro passo para resolver um problema é saber que ele existe.
E assim várias histórias e passagens dela fazem Napoleão Anacleto repensar a sua própria história, buscando meios de ser uma pessoa melhor para si e para seus próximos (familiares, amigos e desconhecidos).
O escritor da obra, ao analisar os demônios internos de Napoleão Anacleto, acaba por desnudar alguns demônios internos que nós leitores temos.
A contextualização acaba se tornando uma terapia de autorreflexão escrita durante todas as 254 páginas do livro, que possui uma linguagem muito direta e objetiva.
Afinal: Quem é o médico da humanidade e a cura da corrupção?
Conforme avanço na leitura da obra, percebe-se que não há “a” cura, mas sim “as”. São diversas ferramentas utilizáveis com um único propósito: “Aumentar a imunidade contra o vírus da corrupção, que está na circulação humana”.
O autor demonstra que a cura não parte de fora para dentro, mas sim justamente o contrário. E isso é muito bem abordado no contexto da vida de Napoleão, que vivencia diversas circunstâncias onde a corrupção é tudo, menos combatida.
Quanto ao médico da humanidade, não posso entrar muito no mérito detalhado a ponto de dizer quem seja. Porém, isso não me impede de deixar uma pista.
A principal dica que posso dar no momento é: Ele tem tudo a ver com o misterioso personagem que acompanha Napoleão Anacleto.
Aliás, esse misterioso mentor intelectual desempenhou o mesmo papel diante de diversos personagens da história da humanidade. Napoleão não foi o primeiro e nem será o último.
Pelo conteúdo do final do livro acredito que haverá uma continuação, uma vez que determinadas lacunas da narrativa não foram preenchidas.
Não posso dizer quais porque ai seria um baita de um spoiler.
Ao finalizar o livro você perceberá muito bem o que estou dizendo.
A leitura do Médico da humanidade e a cura da corrupção foi agradabilíssima e conclui em menos de 24 horas.
É um excelente livro para relaxarmos a cabeça e fugirmos um pouco da frieza do estudo técnico das normas jurídicas. E o melhor: A fuga ajudará justamente a sermos melhores tanto como pessoas quanto profissionais.
O principal personagem estava inserido no ramo das leis, o que foi uma feliz coincidência, diga-se de passagem. Está recomendado.
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