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Artigo de opinião

Direito e literatura: Um exercício da mente

Henrique Araujo
Escrito por Henrique Araujo em junho 10, 2015
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Você é quem administra o curso, não o contrário


Não sei você, mas depois que entrei no curso de Direito minha vida mudou. Minha rotina mudou, alguns costumes mudaram também. A fase mais difícil foi na época de calouro, hoje consigo ao menos tentar equilibrar tudo sem perder o “centro de gravidade” das coisas. 

Uma das principais mudanças, ao menos que ocorreu comigo, foi a relativa aos estudos. Do nada me vi rodeado de leituras que eu não tinha o costume de apreciar – até certo ponto super normal, afinal, é de se esperar que um aluno que acabou de sair do ensino médio leia Drummond, Cecília Meireles, Jorge Amado e cia do que Beccaria, Robert Alexy, José Afonso da Silva e tal. 


Com o passar do tempo percebi que meu vocabulário melhorou drasticamente, meu raciocínio jurídico aumentou consideravelmente e finalmente tive o prazer de conseguir “dialogar com as fontes”, mas isso tudo dentro apenas do direito. Dei conta do fato de que em meu cadastro da biblioteca não tinha sequer um mero “livro de deleite” para ler nas horas vagas, percebi que mergulhei fundo no direito e por ali fiquei. Meu amor pela literatura se rendeu aos escritos jurídicos – que cada vez mais ocupavam meu tempo. Não que a leitura doutrinária seja chata e insuportável – até porque sou frequentador assíduo da biblioteca da Faculdade e a maioria dos livros que pego não são das matérias do semestre -, mas convenhamos que existem livros e Livros, uns lemos com um gosto danado, já outros… E assim formamos nosso cartel de experiência literária, a cada livro, uma lição.

     
 Foi ai que percebi que tinha algo de errado comigo. O Henrique do ensino médio tinha ficado no ensino médio. A leitura que lia por prazer, agora quando tentava ler, resvalava sobre mim um sentimento de culpa, do tipo “Eu deveria estar lendo fulano ao invés desse livro que nada tem a ver com direito“. Quando cheguei nesse ponto vi que tinha algo de errado e que, consequentemente, precisava fazer alguma coisa pra derrubar esse pensamento. O aluno que já fora chamado de “perfeito” por uma professora na antiga 8ª série por conciliar um pouco de tudo, hoje estava com a síndrome do “eu deveria estar estudando”. Eu não vou mentir e dizer que tá tudo perfeito hoje, mas estou fazendo por onde melhorar.

Isso serve não só para essa questão da leitura, mas também para diversas outras atividades: Prática de exercícios, lazer, amigos, enfim. Não podemos deixar de viver simplesmente porque estamos num bacharelado em Direito – e isso de forma alguma compromete nossa credibilidade para com o curso, afinal sabendo administrar o tempo dá para se sair bem em todas nossas atividades e compromissos.

O Direito não está apenas na doutrina


O primeiro passo foi cair na real: O Direito não está apenas nas doutrinas jurídicas. O Direito está em todo lugar, você não aprende apenas lendo a extensa bibliografia que seu professor passou – e que muitas vezes não usa os livros nem pra debate nem pra nada – mas também aprende na vida e a literatura é o retrato da vida. 

Desta forma, sendo o Direito uma forma de agrupamento de garantias e deveres individuais e coletivos, não há dúvidas que eles estão inclusos nas nuances diárias, nas nuances oriundas dos casos concretos, das nuances da vida e de suas múltiplas faces. Essas faces são abordadas na literatura, saindo muitas vezes da ficção e chegando à realidade – afinal a arte imita a vida e a recíproca muitas vezes é verdadeira. Portanto, o Direito não só anda junto, mas também precisa da literatura. A literatura humaniza o Direito, uma coisa pode ser dita de várias formas diferentes, todo livro pode surpreender. 

 Há um vídeo na internet no qual Lênio Streck, um dos juristas mais ilustres e contundentes da atualidade, demonstra a necessidade e o enlace entre o Direito e a literatura. É um vídeo curto, menos de 30 minutos, vou deixar ele aqui abaixo caso você queira conferir e assistir:


Amadurecimento do raciocínio 


Outro grande benefício dos livros “extra” jurídicos é a questão do amadurecimento do raciocínio. Determinados livros são verdadeiros conjuntos de enigmas que vão se desentrelaçando durante a narrativa e, para que possuam e façam um mínimo de lógica, exigem do leitor muita atenção a todos os detalhes, ao mesmo tempo em que prende sua atenção e força sua curiosidade, fazendo com que você leia mais e com discernimento apurado para não acabar “voando” no enredo. É claro que isso não se aplica a todo e qualquer livro que exista por ai, mas com certeza existem muitos disponíveis que são verdadeiros desafios. 

A manutenção do hábito da leitura


Um fato existente em todo os cursos do direito – axiomático, inclusive – é que a grande maioria das leituras jurídicas são impostas, isto é, a turma lê obrigatoriamente e muitas vezes nem isso faz. Dificilmente você sai de uma cadeira da disciplina concluindo junto com a ela a leitura integral de 1 ou 2 livros doutrinários, não é verdade? Até porque não cai na prova, o que cai na prova é o que o professor passa no quadro, à exceção das matérias teóricas que exigem um pouco mais de leitura e aprofundamento literário. 

Muitas vezes isso ocorre porque não há prazer nenhum durante essas leituras. Por serem simplesmente impostas, ou sugeridas como bibliografia, e você percebendo que o professor nem chega a citar o livro nas aulas é claro que dá um desânimo. Com o passar do tempo isso vai tomando conta do seu ser e puft, adeus hábito da leitura. 

É ai que surge a necessidade de ler um bom livro “fora” do contexto jurídico. De preferência do gênero que você gosta, não importa qual seja! Você vai recobrando a vontade de ler, o prazer de sentir instigado a descobrir o final, o gosto de concluir página por página tem o dom de viciar.  

As vezes você só precisa de uma motivação para continuar andando. Inclusive você pode até entrar no curso sem o hábito e acabar adquirindo ele desta forma, angariando mais conhecimento fora como também dentro do curso, uma vez que você passará a ler mais e refletir mais, visualizando o assunto cima da linha do quadro-negro. Sem contar que é uma leitura relaxante e acaba dando um “descanso” na sua tensa leitura para a semana de provas, um verdadeiro bálsamo para o cérebro.

Adquirindo e mantendo o hábito da leitura, tanto o discernimento melhora como a fluidez também. Então você leva isso para as doutrinas jurídicas e vai tentando manter também. Tudo é questão de hábito, infelizmente além de tentarmos manter um hábito temos o costume de colocar desculpas para evitá-lo. A maior desculpa é a falta de tempo, já diziam por ai: 

Se tempo fosse fator preponderante para o êxito, apenas os desocupados teriam sucesso. 

Como (re)inserir essas leituras em meu cotidiano?


Tanto por não dispor de muito tempo, ou até menos por nunca ter o obter o hábito de ler, lembre-se que o mais importante é sempre o primeiro passo. De fato é um exercício diário que exige bastante resiliência por parte de seus praticantes.

Começar por livros pequenos é uma boa ideia. Isso já ajuda a adquirir ritmo de leitura. Pode ser de qualquer gênero: Amor, sexo, ficção científica, terror, enfim, o que você mais gostar – todo livro pode surpreender, um livro é a porta de entrada para outros. É interessante estipular metas pequenas para início de conversa… 10, 20, 25 páginas diárias está de bom tamanho. Até porque você terá outras leituras da faculdade pra ler. 

Conclusão


O hábito da leitura é de suma importância não só para o (futuro) operador do direito, mas também para qualquer um que seja amante do conhecimento. O problema é que não é fácil adquiri-lo, você não vira um leitor(a) voraz da noite para o dia. 

É um exercício de paciência diária cujo(a) beneficiário(a) é você. Não importa o quanto de tempo você tenha disponível para isso, o que importa é tentar sempre, nem que seja no caminho de casa para o trabalho/curso. 

Seja através de E-book ou livro físico, a leitura faz com que nossos horizontes se ampliem e, uma vez que você adquire o gosto na prática, nem o céu será o limite para seus conhecimentos. Pretendo fazer outros posts falando sobre essa vertente, inclusive dos livros que leio, até a próxima e boa leitura!





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8 Replies to “Direito e literatura: Um exercício da mente”

parangaricutirimirruaro

Ótimo amigo, novamente ajudando muito o/

Henrique Araújo

Olá, Ailson! Fico feliz em vê-lo por aqui! Obrigado pelo comentário. Um abraço 🙂

Unknown

Eu sempre fui ávido por leitura,tendo, inclusive, o hábito de ler.porém as circunstâncias da vida me impediram com esse hobby. Só para ter uma noção, nos debates biblicos da minha igreja, eu com cerca de 10 anos dominava toda "os caminhos".
Talvez poderia ler mais outras obras, coisa que retornei justamente agora na faculdade, não que ler um "Curso de Processo Civil do Didier seja ruim, mas reaprendi a ler Galeano, Garcia Marquez, Agusto Cury, Rick Warren etc.

Às vezes é bom sair um pouco da dourina jurídica.

Unknown

Super indico para administração do tempo a plataforma neotriad e também o livro A TRÍADE DO TEMPO.

Henrique Araújo

Obrigado pela contribuição, Gusttavo! Abraço.

Henrique Araújo

É verdade, Rafão! Abraço amigo!

Unknown

Obrigado Henrique pela a postagem, sabe eu me sinto culpado assim rsrss, afinal de contas eu sou bacharel em direito e atualmente trabalho e estudo pra oab e como eu trabalho na livraria saraiva essa sensação é constante pq além dos livros jurídico todos os dias chegam dezenas de lançamento ai tenho que ler alguns rapidamente para indicação mas confesso eu não consigo ler os todos ps que tenho vontade. Abraço

Henrique Araújo

Oi, Marcos! Obrigado pelo comentátio! 😀

Nossa, trabalhar numa livraria deve ser sensacional, apesar do fato de que nem tudo são flores rsrsrsrs. Imagino o trabalho que é ler tantos livros em pouco espaço de tempo, sem contar os livros de seus estudos para a OAB. Bons estudos amigo, boa sorte na prova da ordem. abraço! 😀