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Pedido do leitor e da leitora

Pedido da leitora: Como melhorar a oratória?

Henrique Araujo
Escrito por Henrique Araujo em outubro 30, 2015
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oratória
Oratória na Grécia Antiga (imagem: foto/mosqueteiras literárias)

Olá componentes do futuro do poder judiciário brasileiro, tudo bem? Espero que sim. Preliminarmente, gostaria de pedir desculpas pela minha falta de assiduidade durante esse tempinho que passou, muitas coisas aconteceram e acabaram me afastando das atribuições blogosféricas. Conto tudo depois, talvez. Mas enfim, recebi um email recentemente muito interessante. O assunto dele tenho certeza que é de interesse geral: Oratória. Vejamos:

Olá, Henrique!
Continuo acompanhando suas postagens no DiarioJurista.
Gostei da sugestão do seriado, achei super bacana, conheço poucas séries voltadas para
o universo jurídico (e nem essas tive a sorte de acompanhar, infelizmente).
Mas como terei Penal no próximo período e a série tem foco justamente nessa área do Direito,


vou me programar para assistir “How to Get Away With Murder” antes de outras da minha lista interminável.
(A lista que só cresce, só acumula e que dificilmente vou conseguir cumprir, hahaha uma lástima!)
Enfim, resolvi escrever porque notei que você abriu um espaço para acatar aos pedidos de alguns leitores.
Estou aqui para tentar a sorte e ver se você pode me dar uma força com um senhor problema que tenho: problemas na Oratória!
Sou daquelas pessoas que prefere escrever 10 laudas a defender uma idéia/posicionamento em público.
Em apresentações de seminários até posso saber o conteúdo, mas na hora de falar… me complico toda e acabo
dificultando o entendimento  por parte de quem me ouve. Simplificando: não falo, não me expresso bem em público.
Sei que a Arte de Falar Bem é imprescindível  para o ramo jurídico, ainda mais na área da advocacia e da docência – dois sonhos meus! Temo que essas minhas limitações me prejudiquem mais adiante, mas desejo poder mudar essa situação.
Nesse caso, você se importaria de compartilhar algumas dicas a respeito do tema?
Seria de grande ajuda – não só para mim, mas para muitos estudantes que ainda
tem medo do “palco e microfone” dentro da sala de aula.
No mais, parabéns (mais uma vez) pelo andamento do blog e pelos frutos
que você tem colhido por empenhar-se nessa tarefa árdua da escrita.
Um abraço,

Então vamos ao que interessa: Como melhorar na oratória?

Falar bem em público é uma atividade que, se bem desenvolvida, traz muitos benefícios para o orador e para a oradora. Saber concatenar as ideias, transmitir uma mensagem ou, principalmente, defender seus argumentos de forma contundente é um grande trunfo na vida social como um todo, principalmente no âmbito jurídico. Portanto, persuadir com as palavras é uma arte que deve sempre ser bem desenvolvida.
Acontece que nem todos nascem sabendo falar bem em público. Na verdade são poucos que sabem. Porém, felizmente o que não faltam são meios e conteúdos para ajudar o pessoal tímido ou que simplesmente ainda não sabe como melhorar sua fala em público. Ah sim, assim como você enviou o e-mail, também pretendo ser Professor e sei assim como você que realmente uma boa oratória é indispensável, muitas vezes é até mais importante que o próprio título que o professor tem. Quem nunca teve um professor com Doutorado com uma péssima oratória? Ou aquele professor que não tem tantos títulos mas que consegue passar o pouco que sabe de forma direta, simples e objetiva? Pois é, coisas da vida. 
Desde o início do curso tenho trabalhado esse aspecto. Apesar de não estar no nível idealizado, confesso que melhorei bastante (sou do tipo que até pra dar bom dia era travando, imagine). Então vou colocar alguns tópicos que sem dúvida alguma irão te auxiliar em busca de uma boa fala no meio do povão. Sente que lá vem textão.
 É um tema extremamente importante gente, não tem como falar resumido sobre. Então se você tá apressado(a) pode voltar depois sem pressa, tá? 🙂

Parte I (prática): Não desperdice as oportunidades de dar a cara à tapa

oratória
Imagem: Foto/Reprodução
Isso mesmo amiga, não desperdice. Perceba que você é uma pessoa esforçada, dedicada e que estuda pesado para atingir suas metas ao invés de ficar reclamando. Isso é ótimo! Mostra que capacidade intelectual não é o problema, mas sim a falta de oportunidade de “botar pra fora” o que você sabe e da forma correta.  A partir disso, faça uma autoavaliação a cada participação pensando no seguinte: O que eu poderia ter feito para ter sido melhor? O que eu não deveria ter feito? E por ai vai. Vou deixar aqui um desafio para cumprir essa tarefa. Ao final, de tanto você praticar e se autoavaliar, vai acabar acostumando e tornando as coisas muito naturais. Serão 03 níveis:

Nível 01: Valorizar os seminários e explicações simples para quem quer que seja.

oratória Esse desafio pode ser praticado (na verdade deve) com a maior variedade possível. Vale fazer com a mãe, pai, sobrinho, crush, amigos e claro com sua turma. Sempre que você tiver a oportunidade de falar, preocupe-se em simplesmente falar devagar e demonstrar atenção total quando estiver explicando. Pode ser para a família na hora do jantar quando te perguntam “filha vi no jornal tal coisa, isso pode?” ou coisas do tipo.
Já nos seminários isso requer um pouco mais de preparo, não tanto, mas requer. Desenvolva um planejamento com introdução, desenvolvimento e conclusão do que você vai falar.Vou dar um exemplo: Seu Professor de Constitucional mandou fazer um seminário sobre as cláusulas pétreas. Então você planeja o seguinte: Introdução – Falar o que é cláusula pétrea – depois o desenvolvimento – Pra que serve cláusula pétrea e onde encontrá-la na CF- e a conclusão do tema – possibilidade de alteração negativa ou positiva de uma cláusula pétrea. A cereja do bolo é exemplificar o assunto abordado, quem não gosta de um exemplo fático pra ver que a teoria é útil? Pois é rsrsrsrs.
oratóriaPara a execução dessa etapa do desafio não precisa de tanta coisa, basta de jogar.  Haja com naturalidade, não tente falar muito bonito ou muito despojado, preocupe-se em ser compreendida da melhor maneira possível, pois no final é isso que importa. Não há coisa tão ruim quanto ser mal compreendida não é mesmo? Você uma coisa e a pessoa entende outra. Ah, já ia esquecendo: Tenha pleno domínio do que você vai falar. Muitas vezes bate um nervosismo simplesmente porque temos medo de passar vergonha. Esse passar vergonha geralmente é associado ao medo de falar besteira ou alguma coisa errada. Então quanto mais você estudar, melhor, pois vai diminuindo essa ansiedade e você vai tomando noção de que realmente não precisa disso porque sabe do que está falando. E se errar, não tem problema! É errando que se aprende. Você não pode deixar de fazer as coisas por medo de errar, não deixe o seu medo ser maior que sua vontade de ser melhor.
Nas primeiras vezes pode ser bem tenso, mas não desiste, lembre-se de autoavaliação! Faça sempre isso, pense em como poderia ter sido melhor, o que acertou e o que errou. Sendo assim toda experiência será útil! Por isso quanto mais vezes, melhor! Sem contar que você vai falar para pessoas conhecidas (família, amigos, colegas da sala etc) 🙂

Nível 02: Participar de eventos de extensão e pesquisa, daqueles que você tem que fazer apresentação oral

Bom, ultrapassado o nível 01 (que deve sempre ser realizado toda vez que você tiver oportunidade), é hora de avançar. Agora é hora de falar para pessoas “desconhecidas”. Não há nada melhor do que participar de eventos de extensão. Geralmente as próprias universidades fazem eventos do tipo semana de pesquisa/ semana de extensão, onde os alunos submetem artigos, resumos, banners etc.
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Agora é a hora de você abordar com mais propriedade um assunto, é hora de jogar sua erudição para outro patamar. Aqui você junta o útil ao agradável: Torna-se um construtor do conhecimento ao mesmo tempo em que treina mais uma vez a arte de falar em público (sobre o Direito). Apresentar trabalho em evento de extensão é uma excelente oportunidade porque você já estará mais segura devido ao nível 01 e também pelo fato de ter estudado bastante para ter seu trabalho concluído e aprovado pelo evento. Então o que resta é botar na ponta da língua as laudas escritas!
A recomendação aqui é praticamente a parte 01 do desafio: Agir com naturalidade, sem “forçação de barra” ou algo do tipo. Não se preocupe se nos primeiros não ficar como planejado, é assim mesmo. Na minha primeira apresentação num evento assim minhas pernas tremiam mais que vara verde, sem brincadeira (o clima frio gerado pelo ar condicionado da sala contribuiu bastante). Ensaie bastante essa apresentação, pois o público-alvo é de nível maior que o desafio 01. Geralmente são pesquisadores e professores doutores (comigo foi assim e geralmente é assim). Eles gostam de fazer perguntas ao final, não trema da base. É mais uma oportunidade de você demonstrar o que sabe e exercitar sua oratória. Show de bola!

Nível 03: Participar de programa de monitoria dentro do seu curso de graduação

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Já pensou em ser monitora de penal com a professora Annalise Keating? rsrsrsrs
Enfim chegados ao último nível do desafio das oportunidades. Você já fez bons seminários, já apresentou trabalhos em eventos de extensão e pesquisa mas ainda falta a cereja do bolo: Sentir na pele o que passa um professor. Eu conclui esse desafio semestre passado, quando fui aprovado para ser monitor da disciplina de Direito Constitucional III (contei minha experiência e dicas nesse post).
Agora é hora de você efetivamente dar uma aula. Sugiro que antes de começar a exercer as atividades de monitoria, leia meu post linkado acima para tirar o máximo de proveito dessa etapa muito importante da vida acadêmica. Aqui você aprender com o professor como fazer um plano de aula, terá dicas de como se sair bem e muito mais. 
Pressupondo que você leu o post que indiquei, vou deixar aqui recomendações extras que não deixei lá:
I – Crie oportunidades: Sempre que for possível marque aulas de revisão, assim não só você terá mais oportunidades de treinar sua oratória e domínio do tema como também será muito útil para os alunos
II – Abuse de seu orientador (no bom sentido rsrssr): Pergunte tudo, tudo mesmo. Pegue todas as dicas possíveis. Lembre-se que ele já exerce a profissão que você pretende exercer no futuro. Quem não fica sentado pra aprender, não fica de pé pra ensinar. Então aprenda bastante, tire todas suas dúvidas sobre a profissão e sobre como é ter chegado lá. Você só tem a ganhar! 
A recomendação para este nível, se é que você vai precisar rsrsrsrs, é a seguinte: Não queira imitar ninguém, seja você. As vezes pode bater a tentação de tentar imitar a forma como um determinado professor que você ache bom ministra uma aula, não caia nessa. Vocês são pessoas diferentes. O que é válido é aproveitar os pontos positivos da didática de professores que você considera bons. Esteja sempre disponível aos seus alunos da monitoria e seja humilde em aceitar as críticas deles, pois como já disse aqui: Quem não fica sentado para aprender, não fica de pé para ensinar. 

Parte II (teórica): Esteja sempre acompanhada de bons livros sobre o assunto

Aliada à uma boa prática está a boa teoria. No mercado temos excelentes livros abordando a questão da oratória. Além disso, a boa oratória em nível máximo vai muito além de saber falar bem. Analisar o comportamento humano , aprender linguagem corporal (sim, o corpo fala e muito) e entender a fundo a arte da persuasão fazem parte desse enredo fantástico. 
Ter um embasamento teórico de peso vai aumentar ainda mais o desempenho no campo prático. Grandes pensadores já já falaram bastante sobre isso, existem centenas de excelentes obras que merecem sua atenção para ampliar ainda mais seu nível de oratória. Vou deixar algumas recomendações aqui. Alguns eu lá li e outros estou lendo. Destes livros você retirará preciosas lições que irã contribuir tanto para sua formação como advogada quanto como professora. Alguns desses livros são excelentes também para saber quando alguém está usando as técnicas descritas neles contra você, hehehehe. Segue minha humilde lista:
A) Oratória para advogados e estudantes de Direito, do Reinaldo Polito: Esse entre os 03 é o que mais tem dicas pontuais para o operador e operadora do direito, leitura fácil e rápida. Vale a pena ser relido várias vezes. Dá pra ler ele e ir aplicando o desafio 🙂
B) Como Vencer um Debate Sem Precisar Ter Razão –  Arthur Schopenhauer: Esse livro é um clássico. Indico ele não para dizer a você que use as técnicas, siga se quiser, mas o maior trunfo dele em minha opinião é armar você pra não deixar que algum espertalhão ou espertalhona use essas técnicas contra você, mesmo não tendo razão. Vale super a pena ler, viu?!
C) Como Fazer Amigos e Influenciar Pessoas –  Carnegie, Dale: Dale Carnegie é um autor clássico de livros no ramo. Não pense que é um livro sacana que mostra como enganar o próximo nem nada do tipo. Antes de começar a leitura dele também achava isso por causa do título, mas não tem nada a ver com técnicas malignas de dominar terceiros. É um livro que mostra a você como ser uma pessoa melhor para o próximo e como isso te traz benefícios a médio, longo e curto prazo. 

Parte III: Acabou o textão! Considerações finais

Falar bem exige uma preparação cuja intensidade vai variar de acordo com o quão boa nisso você pretende ser. Para isso não é necessário imitar ninguém e nem forçar a barra fingindo ser alguém que você não é. Através dos passos dados aqui nesse “pequeno” post eu melhorei bastante não apenas como orador mas também como pessoa. Porém, não me considero o guru da oratória ou algo do tipo. Só sou alguém que quer ver você sendo cada vez melhor em busca da realização de metas e, por que não, de sonhos.
 Lecionar é uma arte que um dia pretendo exercer assim como você que em enviou o e-mail. Não há preço que pague a satisfação de ter ciência de que você contribui de certa forma para uma sociedade melhor na medida do possível. Mas para lecionar bem uma boa oratória é indispensável, afinal a fala é a principal ferramenta do docente e também do advogado. Espero que as recomendações do post tenham sido úteis e que você progrida sempre. Vamos juntos, abraço!
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Caso você queira participar da coluna “pedido do leitor” basta enviar um e-mail para diariojurista@gmail.com e não se preocupe que sua identidade será sempre mantida em sigilo. Valeu!

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2 Replies to “Pedido da leitora: Como melhorar a oratória?”

Unknown

http://www.ligiacavalcanti.com.br Professora Lígia Cavalcanti Ministra cursos de oratória há 27 anos. Técnicas aprendidas aqui são levadas para a vida toda. Tem o projeto de Oratória Jurídica voltada para estudantes e operadores do Direito. Fica a dica!

Unknown

Olá Henrique!Venho aqui lhe informar sobre uma interessante ferramenta para melhorar a oratória,talvez não de forma direta,mas como todo bom livro também influi indiretamente a prática,aqui também podemos indiretamente treinar.Aqui neste grupo,que tem como objetivo o debate para a construção de conhecimento.O grupo se chama "Debatendo o conhecimento",caso tenha facebook,se posiciona diante de temas polêmicos e tenha interesse em aprender,sugiro que dê uma olhada : https://www.facebook.com/groups/1136665709681533/