Olá, retomo a partir de agora a coluna dedicada especialmente aos leitores do blog. Nesta coluna elejo um e-mail recebido para sanar eventual dúvida que considero ter o potencial de ser a dúvida de mais alguma pessoa, além do próprio leitor que enviou.
Vamos iniciar o post de hoje?
Olá, tudo bom?
Irei cursar Direito no ano que vem, mas estou com alguns medos do curso. Em relação a cursar em uma faculdade boa (embora que, a minha faculdade é considerada boa em Direito), a obrigação de ler muito (gosto de ler, mas o que me oportuna é o vocabulário jurídico). Entre outros medos, como não conseguir acompanhar o curso, não conseguir ter meu espaço no mercado de trabalho (sei que é extremamente lotado) e os concursos são bem difíceis. Todos esses medos me levam a pensar que Direito não é o que eu quero, embora seja o único curso pelo qual tenho interesse.
Sobre o vocabulário jurídico… Dizem que as palavras são muito difíceis. Mas ao longo do curso iremos estudá-las e nos acostumar com elas, não é? Parece boba a pergunta, porém estou roendo as unhas de medo de tudo, inclusive de não conseguir acompanhar o curso e me perder no caminho, ou não conseguir me tornar uma boa profissional, como eu disse anteriormente.
Teria algum conselho para me dar?Obrigada pela atenção.😃
Dissequemos as dúvidas por partes. Primeiramente falemos sobre a questão de escolher uma boa faculdade. A escolha da faculdade leva em conta a necessidade de fazer uma boa base e, de certa forma, diferenciar sua formação em meio aos formandos no curso com maior quantidade de Universitários do Brasil, segundo levantamento do MEC.
Entretanto, convém trazer à discussão o bom e velho clichê de que quem faz a universidade é o aluno. Não significa dizer que qualquer faculdade é suficiente, mas que, independentemente da instituição na qual você decida cursar direito, o que mais será levado em conta será sua dedicação durante o curso, não a sigla de sua Universidade ou Faculdade.
Não existe instituição de ensino superior, na área jurídica, que seja sinônimo de ponte para o sucesso. Nem as mais famosas como a SanFran conseguem aprovar todos seus alunos no exame da OAB, exame primordial para o exercício da advocacia, no qual inexiste concorrência! É você contra você, literalmente. Há algum tempo eu confiro os dados do exame de ordem das Universidades. A USP por exemplo há no mínimo 30% de alunos reprovados na OAB por edição. E olhe que é uma Instituição renomada e uma das mais difíceis de conseguir ingresso num curso pomposo como Direito. Mas que nem por isso seus alunos têm êxito em tudo que fazem.
E isso é perfeitamente normal. Usei o exame de ordem apenas como um dos diversos exemplos que eu poderia ter utilizado. Enquanto isso, conheci alunos de faculdades que nem professor tinha ou que, na melhor das hipóteses, o Professor vivia dando aula à base de slide por não saber simplesmente lecionar a disciplina conseguirem a aprovação de primeira no exame. Já vi casos também de amigos no começo da faculdade – bem no começo mesmo, tipo primeiro ou segundo período – conseguirem aprovação num disputado concurso público de primeira, enquanto outros amigos se formaram em boas instituições e até agora estão na luta. E isso é a coisa mais normal do mundo. Cada um tem o seu tempo, o seu timming.
Veja que a formação pouco interferiu para a aprovação. Contudo, não nego que a diferença de dedicação entre as pessoas que citei no texto, e que não citarei nomes, era extremamente nítida. Esse meu amigo calouro era muito dedicado, muito estudioso mesmo. Aproveitou o momento de greve de sua faculdade para se dedicar exclusivamente ao concurso. Passou em 2º lugar estudando 12 semanas. Eu tenho o depoimento que ele deu para um cursinho, qualquer coisa me chame por e-mail que passo para você.
Então quanto ao quesito faculdade, tenha em mente que o que mais importa é o estudante e sua capacidade de dar o máximo independentemente do que o Professor passe em sala e não a faculdade propriamente dita. Mas claro, se possível, escolha a melhor faculdade que estiver ao seu alcance.
O curso de Direito e a famosa obrigação de ler muito
Essa lenda é um dos maiores espantalhos que conheci dentro da graduação em Direito. Acredite, isso de ter que ler muito não é seguido à risca. Seja pelo fato do brasileiro não ter o costume de ler, seja pelo fato das Universidades e concursos públicos contribuírem para isso, salvo algumas exceções.
Já tive a oportunidade de trocar ideia com estudantes de todos os cantos do Brasil. Seja por conta deste humilde espaço virtual na internet ou por conta do grupo de estudos no facebook. A grande maioria das disciplinas jurídicas possibilita a aprovação através de simples leitura de resumos ou simplesmente do caderno de anotações feitas em sala.
Na verdade raridade é encontrar algum estudante de direito que, de fato, leia muito e exponha isso. Ler muito para eles não é o que você está pensando, tipo cinco ou seis livros por disciplina. Nada disso! Se ler ao menos um por matéria já é um feito alcançado por poucos, seja pelo fato do desinteresse e pela possibilidade de ser aprovado na matéria lendo resumo ou slide ou as anotações do caderno, seja pelo fato da grande maioria dos concursos públicos de tribunais focarem na memorização da lei e de algumas jurisprudências, como as súmulas dos tribunais superiores.
No final das contas grande parcela dos estudantes de direito almejam um cargo público. Se o ingresso nele não exige raciocínio doutrinário, para que perder tempo lendo doutrina? Esse é o raciocínio básico dos dias atuais, infelizmente.
Então não pense que não gostar de ler impedirá de terminar o curso. Pelas opiniões que vejo em alguns lugares, eu chego a pensar que não gostar de ler é a regra atual. O curso está em crise.
Agora o que precisamos decidir é o tipo de leitura que você tem em mente quando se refere a ler muito. Os concurseiros leem muito, mas não doutrina e sim apostilas imensas de cursos preparatórios, súmulas e mais súmulas, leis intermináveis e os informativos do STF e STJ. Então mesmo eles não sendo fãs de doutrinas – por conta da necessidade de objetividade cobradas nos certames públicos – eles acabam lendo muito sim. Principalmente aqueles que alcançaram aprovação em seus certames.
Então veja que o curso em si, em tese, não vai acabar com você através de livros e mais livros. A escolha em ler muita doutrina ou não é totalmente sua e de suas particularidades: Tempo disponível, condições financeiras de adquirir bons livros, habitualidade em não acumular leituras, enfim. E para isso ninguém ficará no seu pé.
Cabe única e exclusivamente a você decidir o quanto de intensidade colocará em seus estudos, sempre tendo em mente que todo esforço de hoje será recompensado amanhã. É por isso que o mais importa é sua dedicação e não onde você estuda, afinal estude no norte ou no sul, em faculdade pública ou particular, seja veterano ou calouro, a doutrina é a mesma. Cabe a você decidir abri-la ou não.
Mercado de trabalho e concursos públicos
Seu receio quanto ao ingresso no mercado de trabalho por meio de concurso público é perfeitamente plausível. Cada vez mais gente tenta ter o Estado como patrão e adquirir a tão sonhada estabilidade financeira e, a partir disso, desfrutar de todo esforço depreendido para alcançar a almejada aprovação.
Acontece que o mundo jurídico não se resume aos concursos públicos Existem diversas outras formas de ingressar no mercado em concurso. A própria advocacia é um exemplo, sendo que a dificuldade é invertida em relação aos concursos, uma vez que o mais difícil não é entrar, mas permanecer nela. É preciso ter muito brio para isso, no mínimo.
Ademais, há a possibilidade de lecionar em instituições Universitárias que não realizam certames públicos ou, caso exijam, usam para apenas averiguar se você tem domínio na disciplina. E geralmente quando não se exige concurso a dificuldade em permanecer as vezes é muito maior do que uma repartição pública, e pode pagar tanto quanto ou até mais que um cargo público.
Mas, voltando ao assunto concursos públicos, a concorrência não deveria ser motivo de pesar seu. O concurso público é a forma mais democrática de ingresso no poder público e nos atrativos cargos que fazem a cabeça da grande maioria dos membros da área jurídica. Passa quem estiver, no momento da prova, mais preparado. Cabe a você ter ciência de que concurso é uma fila e, caso você não saia dela, uma hora chegará a sua vez. Resiliência é a palavra de ordem.
Nunca foi tão fácil estudar para concursos como atualmente. E isso, naturalmente, elevou o nível das provas que tentam desesperadamente encontrar um meio de filtrar tanta gente para poucos cargos disponíveis. Hoje você pode estudar dentro do seu quarto, pelo celular, entre outras comodidades. No entanto, talvez tanta comodidade acabe atrapalhando quem não sabe aproveitá-las.
Não adianta ter todo o aparato tecnológico do seu lado se você não se dá o trabalho de ligar o tablet, notebook, pc ou smartphone cedo para ver aquela aula e fazer seu resumo. As ferramentas estão ai, mas elas não se abrem sozinhas, é preciso que sua dedicação dê o on e permaneça nele até cumprir todos os seus objetivos.
Quanto ao vocabulário usado na área jurídica e, consequentemente, no curso de Direito
Não tenha medo do vocabulário jurídico e dos famosos jargões em latim. Você verá isso inúmeras vezes e acaba acostumando. O desafio na verdade é levar o conhecimento complexo para o campo da simplicidade quando você materializa o que aprendeu. Explico. No frigir dos ovos o destinatário do direito é o povo, a universalidade, que compreende o seu João que com muito custo aprendeu a escrever o próprio nome até o Pós-doutor que pleiteia na justiça os direitos autorais de sua tese.
Não podemos esquecer que a simplicidade é o último grau de sofisticação. Mas nem por isso precisamos usar o idioma de forma chula, mal feita, de arder os olhos. Um simples bem feito é muito melhor que um complexo mal feito na fracassada tentativa de impressionar.
Além disso, como o foco aqui envolve o curso e a escolha da faculdade, hoje em dia há muitos livros jurídicos com linguagem extremamente simples e objetiva. Ao contrário de outras épocas em que pra ler um livro de direito era necessário estar acompanhado de um dicionário específico para a área – como se um novo idioma existisse para meia dúzia de intelectuais – atualmente você não precisa se preocupar com isso.
Aliás, a própria internet está repleta de excelentes artigos científicos e sites de boa qualidade e que possuem bons conteúdos. Empório do Direito, Conjur, Justificando, Dizer o Direito, Conpedi, Constitucionalistas, Blog do Juiz Rafael de Menezes, Assim Passei, Conteúdo Jurídico são bons exemplos disso.
A dica que dou nesse ponto é: Mergulhe no meio jurídico. Curta fanpages no facebook sobre direito, siga no twitter, instagram, leia blogs jurídicos e com o tempo você verá o quanto é natural esse linguajar. Hoje o rococó jurídico é muito menor diante da democratização do conteúdo com a chegada da internet. Tudo está a um clique de você. Basta acessar e ter acesso a um turbilhão de informações, cuja filtragem é de sua responsabilidade.
Enfim
Acredito que todo mundo deveria cursar direito. A intensidade e aprofundamento fica por conta de cada um. É praticamente impossível duas pessoas, mesmo que de uma mesma turma, saírem com a mesma formação jurídica. Da mesma forma que alguém pode se formar sem ler um livro, outrem pode se formar lendo mais de cem. E isso não significa que não ler reflita no fracasso profissional, apesar da grande possibilidade, uma vez que já está difícil pra quem estuda, imagine. Os contornos que vida faz no destino de cada um é muito diferente, mas uma coisa é certa: Para chegar onde a maioria não chega, é necessário fazer o que a maioria não faz – seja antes, durante ou depois da faculdade.
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