Prezados acadêmicos [Jusamigos(as)!], recebo muitos e-mails acerca dos mais variados assuntos de estudantes dos quatro cantos do País.
Quando considero o tema de utilidade pública, posto na coluna pedido do leitor ou espaço do leitor.
Verifiquei que um tema bastante interessante e que tira o sono de algumas pessoas ainda não foi debatido aqui em primeira pessoa: A dissociação entre sua capacidade e a nota que você tira na faculdade.
E o motivo é simples: Nem sempre o que está em jogo é apenas “estudo”. E uma nota indesejável não deve ser vista como motivo de desânimo, mas sim como ponto de partida para um desenvolvimento mais intenso em seus pontos fracos.
A meta é tornar essa fraqueza uma de suas maiores fortalezas.
A forma como você encara esse ponto é crucial para o seu desenvolvimento.
Para enriquecer o tema, decidi hoje trazer para vocês um pedacinho de minha trajetória acadêmica que reflete bem sobre isso.
Prepare a pipoca e relaxe. Vamos lá.
Há aproximadamente 4 ou 5 anos, eu estava no 2º ano da faculdade, indo para o terceiro. Fui um dos piores anos de minha vida. Meu pai havia desencarnado e o impacto foi exorbitante.
Ele era o meu melhor amigo. Todos os dias me esperava sentado em sua cadeira de balanço voltar da faculdade. Eu estudava pela noite.
Conversava comigo, trocava ideia muito sobre direito penal, pois ele era policial civil.
Perder ele bem no meio da faculdade não foi fácil. Pensei em trancar. Mas lembrei da história de vida dele e disso arrumei forças que nem sei como, mas me ajudaram a prosseguir aos troncos e barrancos. Até prova chorando cheguei a fazer. Nada de escandaloso pra ninguém ter peninha de mim, afinal isso não condiz com meus princípios nem com a criação que tive. É que realmente a barra estava pesada. Meu velho faz falta até hoje, mas naquela época fui muito mais dolorido.
Meses após o desencarne dele, o semestre acabou e mais um estava prestes a começar. Decidi pegar uma matéria muito importante com um dos melhores professores do Estado. Ficava no campus da capital, pedi transferência e foi aceita.
Para que seja aceita essa transferência é preciso que sobrem vagas. É preciso que os alunos “originais” do campus não lotem a turma. E quando a turma não lota é sinal que o Professor não dá moleza, é bastante exigente. Mas era isso que eu queria mesmo. Então fui.
Pois bem, apesar de ainda não estar 100% focado na faculdade, tentava estudar. Mas usava livros diferentes dos recomendados pelo professor, pois não entendia muito bem a linguagem dos livros que foram indicados e me adaptei melhor com outros.
A matéria era direito constitucional, a última cadeira para ser mais exato.
Realmente o Professor fazia jus à fama. Era excepcional, sensacional, possuía um domínio que eu ainda não havia visto nada parecido na minha até então curta passagem pelo curso de Direito.
No entanto, as coisas não foram muito boas para mim. Ao final do semestre, não atingi nota mínima suficiente para ser aprovado na cadeira. Faltava meio ponto.
Naquela época na minha faculdade não havia recuperação. Não bateu a média, um abraço. Próximo semestre nos vemos novamente.
Para fechar a tampa do caixão, junto com a prova o professor entregava um espelho de respostas fundamentadas em doutrina e jurisprudência.
Duas amigas minhas de faculdade que também pegaram Constitucional na capital com outros excelentes professores conferiram minhas respostas ali mesmo na sala. Eu não tinha mais cabeça pra nada. A primeira reprovação na história de minha vida não era nada perto do que eu passei há poucos meses.
Elas me encorajaram a recorrer. Falaram que se eu prestasse atenção, a diferença estava em alguns argumentos que usei com pontos doutrinários diferentes. O professor viu isso, na sala não restava mais ninguém senão eu, duas amigas, todos no fundo dela, e o professor passando as notas para o sistema.
Ele havia salientado que em mais de 10 anos de docência não havia um recurso em detrimento de avaliação feita por ele. Ou foi isso ou foi que em 10 anos ninguém nunca ganhou um recurso.
No entanto, não sei explicar mas ao eu me dirigir à mesa dele para aceitar minha sentença, ele simplesmente permitiu e me encorajou a recorrer. Eu já havia assinado meu nome na lista. Ele poderia ter me reprovado ali. Disse que não colocaria nada no sistema para me prejudicar e que aguardaria o resultado de um eventual recurso.
Pois bem, foi o que fiz.
Em meu primeiro recurso da vida, informei os porquês de minha resposta sem em momento algum trazer nenhum ponto que denegrisse a imagem do professor. Pois realmente ele era e é um exemplo de professor e de ser humano. Por mais que houvesse esse detalhe da nota, eu sai dali tendo ele como exemplo. Decidi que buscaria o conhecimento além do necessário para ter um domínio do direito constitucional, foi uma espécie de ponto de luz, de estímulo a ir atrás para ser um estudante melhor. Não mais um vítima das circunstâncias.
O resultado do recurso saiu. Aprovado na matéria. Minha pontuação subiu. A partir dali recebi o maior estímulo possível para estudar direito constitucional. Meus argumentos divergentes, mas fundamentados, foram aceitos pelo colegiado e acredito que pelo próprio professor também. Que continua sendo um exemplo para mim.
Sei que depois de cursar essa matéria eu não era mais a mesma pessoa. Comecei a me dedicar ainda mais e acabei tomando gosto em direito constitucional. E a partir daí as coisas começaram a mudar. E alguns resultados na época de faculdade vieram:
1. Fui coautor de um livro de direito constitucional. Meu ponto foi controle de constitucionalidade. Matéria estudada na última cadeira. Eu já conseguia aliar os livros que eu gostava com os de leitura mais densa.
2. Fui aprovado em primeiro lugar geral do campus na primeira e mais difícil seleção para monitor de uma disciplina. Dou uma paçoca se você adivinhar qual disciplina era. Isso mesmo, direito constitucional, especificamente a última cadeira. Fui monitor de um dos professores mais gabaritados do Brasil. Para você ter uma ideia, em nenhuma outra monitoria teve tanta inscrição com candidatos tão qualificados. Mas só havia uma vaga. Com direito à prova de aula com sorteio do tema ali na hora, votação dos alunos (para eleger quem explicou de forma mais didática) e perguntas orais arguidas pelo professor ao final de nossa explicação.
3. Meu TCC foi elaborado na área de direito constitucional com meu professor de monitoria. Numa das bancas mais rigorosas, afinal salvo engano era apenas eu como orientando dele e dentre os outros membros também havia temor por parte dos colegas dada a rigidez, essa que eu sempre fui atrás e nunca corri. Resultado: Laureado com nota máxima a recomendado para publicação.
4. Meu TCC – em direito constitucional – foi publicado numa das melhores revistas jurídicas sobre o tema do País. E não foi a única publicação feita por mim, já escrevi outros artigos também aprovados.
5. Ainda no 9º semestre, já terminando a faculdade, fui aprovado no exame da OAB – numa primeira e única tentativa – cuja segunda fase fiz numa área que dou uma paçoca se você acertar qual foi: Direito Constitucional.
Tudo isso por causa desse susto que tomei lá no meio da faculdade. A forma como encarei aquilo mudou completamente os rumos de minha trajetória acadêmica. Eu poderia muito bem desanimar, ter sido reprovado e pegar distância do direito constitucional. Mas fiz exatamente o oposto e me dediquei tanto que ela hoje é a área que sigo pra vida. Já dou aula na matéria e pretendo ser Professor universitário um dia.
Você não é a sua nota.
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Hey,
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isso aí! fez do limão uma limonada rs.