Estagiar durante a graduação do curso de direito é uma experiência bastante valiosa. Durante os 05 anos em que passamos na graduação, certamente uma das frases mais batidas que estamos cansados de ouvir é que na prática as coisas são bem diferentes do que vemos na teoria.
Com certeza você já ouviu isso, não é mesmo?
Acontece que muitas pessoas, digo por experiência própria – recebo vários e-mails sobre isso -, com receio de estarem perdendo tempo acabam com um pé atrás quando o assunto é começar a estagiar. Então este post terá por objetivo demonstrar 05 bons motivos para você iniciar seu estágio e somar conhecimento teórico e prático na dose certa.
1. Estágio durante a faculdade: Materializar a teoria estudada facilita a compreensão do conteúdo.
Esse ponto positivo não se aplica à toda e qualquer matéria disponível em sua grade curricular, porém algumas possuem uma forte cobrança na prática e que acaba te ajudando até mesmo a entender a teoria melhor. Existem várias e a quantidade delas depende muito do local em que você deseje estagiar.
Cada órgão público ou até mesmo cada escritório de advocacia possui uma especialidade ou, pelo menos, uma determinada gama de matérias e assuntos mais recorrentes. Durante o dia-a-dia do trabalho, você internalizará aquele conteúdo de tal forma que a teoria, por mais difícil que as vezes possa parecer, acaba ficando fácil – ou menos difícil – simplesmente porque você sabe como aquilo funciona e consegue visualizar cada detalhe sem precisar ficar imaginando como aquilo acontece no mundo real.
Matérias que podemos utilizar como exemplo disso são: Direito e processo civil, direito e processo penal, direito e processo do trabalho, direito eleitoral, direito tributário, direito internacional entre outras. CPC você é praticamente forçado a aprender em quase todos os locais de estágio, tendo em vista que você trabalhará peticionando, redigindo sentenças, despachos, pareceres, recursos, enfim. Todos esses atos exigem o conhecimento do direito processual civil, pois é nele que você irá conferir prazos, requisitos, cabimento, entre outros. Na prática você acaba ficando fera na teoria sem querer querendo. E é ai que você começa a perceber que nem tudo é tão diferente, apesar de determinadas coisas serem.
2. Estágio durante a faculdade: A oportunidade de sentir na pele como é trabalhar naquele órgão que você pretende ingressar futuramente.
Se você pretende ser juiz, promotor, delegado, procurador, defensor público, advogado, analista judiciário entre tantas outras das centenas de oportunidades ofertadas para quem possui formação na área jurídica, ingressar nela através de um concurso público de seleção de estágio é uma ótima ideia para ter noção da vida real naquele lugar.
Estamos acostumados a viver no mundo da idealização. Até mesmo pelo fato de estarmos preocupados em relação ao planejamento de nosso futuro profissional, as vezes paramos pra imaginar como deve ser bom passar naquele concurso e trabalhar naquele cargo, sendo que quando você passa a conhecer a realidade daquilo o sonho acaba se transformando em frustração, ou então na reafirmação do que você já imaginava que seria.
Sendo assim, iniciar o trabalho naquele local na condição de estagiário é uma excelente forma de enxergar o mundo real daquele lugar. É aprendendo com quem você deseja ser quando crescer que você chega a uma das duas situações: Ou compra a ideia de vez ou desiste dela. Ambas as situações são ótimas! Faculdade é época de aquisição de experiências, por isso é bom, se possível, estagiar em mais de um local – não simultaneamente, claro, afinal você precisa estudar! rsrsrs
Foi por esse motivo que decidi estagiar tanto na justiça federal quanto na justiça estadual. Eu tenho um apreço muito grande pelo TRF e estagiando lá só reafirmei isso, mas quando sai de lá tive a sorte de ser convocado no concurso de estágio do TJ do meu Estado, atualmente trabalho na assessoria da vara cível daqui. A experiência está sendo tão proveitosa quanto foi na JF e além de toda experiência e conhecimento prático adquirido você ainda acaba fazendo bons contatos e amigos na área, o que é muito importante tão quanto saber do conteúdo jurídico.
Talvez seu supervisor seja seu futuro colega de trabalho, quem sabe?
3. Estagiar durante a faculdade: Entender como funciona o sistema judiciário na prática.
É neste ponto que fazemos alusão ao que foi dito logo no começo desse texto a respeito da diferença entre o que é ensinado e o que de fato é feito. Acontece que precisamos deixar alguns pontos devidamente em seus lugares.
Aprender como o sistema funciona na prática não é, ou não deveria ser, motivo de subjugar o conhecimento teórico adquirido durante o curso, seja o que fora ensinado pelo professor ou aquele conhecimento que você adquiriu “se virando sozinho”. Muito pelo contrário, com um bom domínio teórico você pode tornar a prática mais eficaz.
Porém, antes de querer qualquer coisa que seja no meio prático, é preciso entender o modus operandi de uma determinada repartição pública ou até mesmo de um escritório de advocacia. O motivo é simples e até mesmo lógico: Você jamais aprenderá isso sentado lendo um livro ou assistindo à uma videoaula. A praxe não se ensina, se vive.
Até porque, convenhamos, seria impossível que durante uma aula um professor consiguisse passar toda a praxe de todos os órgãos jurídicos e dos escritórios de maior evidência da região, até porque os próprios professores não sabem e nem devem saber. A praxe é útil para quem faz parte de seu contexto. Quer aprender? faça parte de algum. Assim você sai do lugar comum e começa a entender como a realidade é de fato.
O máximo a ser feito por um professor na sala de aula é que ele explique como funciona mais ou menos os bastidores de sua segunda profissão. Digo isso porque geralmente professores de direito não são apenas professores, mas também exercem a advocacia, magistratura, MP, enfim.
Estagiando você aprenderá e adquirirá preciosas informações que são de conhecimento de poucos. As vezes conhecer como as coisas funcionam acaba sendo mais importante do que o próprio conhecimento jurídico pleno do assunto que norteia essa coisa. Isso só o estágio, leia-se, a vida real, vai te ensinar – ou desensinar as vezes.
4. Estagiar durante a faculdade: Mais responsabilidade
O estágio para o estudante, seja ele de qual curso for, é uma nova responsabilidade a ser observada por quem aceitou o desafio de aprender com a prática. Para isso, toda a sua rotina acaba de certa forma sofrendo algumas alterações, cuja intensidade vai depender de pessoa para pessoa, principalmente se você cursa Direito.
Particularmente, a prática de estágios mudou toda minha rotina. Toda manhã eu sabia e sei que tenho que ir para um determinado local e que meu horário de estudo ficou delimitado. Você acaba sendo levado pelas circunstâncias de ter menos tempo para estudar para justamente valorizar o pouco tempo que tem. E isso é ótimo.
Um de meus maiores medos ao dar início à temporada de estágios era diminuir no rendimento de meus estudos, já que eu não teria o dia todo para estudar como eu tinha antes. Aconteceu que meu rendimento nos estudos da universidade acabou melhorando, repercutindo até em minhas notas que “sofreram” uma boa melhora.
O estágio tem duração de 4 horas diárias, em regra, e em dia de prova na faculdade você tem direito à redução de metade da carga horária. Alguns locais liberam até o dia inteiro, vai depender da maleabilidade de seu supervisor.
Notei que isso aconteceu por vários motivos, mas o principal foi o seguinte: Antigamente eu escolhia quando estudaria – seja de manhã, de tarde, de madrugada ou hora nenhuma. Agora com o estágio ocupando o período da manhã e a faculdade à noite ou eu estudava durante a tarde ou estudava hora nenhuma. Passei a estudar com mais disciplina porque sabia que se eu não estudasse naquele horário não teria mais como estudar em momento diverso como, por exemplo, de madrugada – pois eu tenho que acordar cedo para ir ao estágio. As vezes eu até forço um pouco a barra, mas só em casos urgentes.
Só o fato de você estagiar já te ajuda a ter mais responsabilidade com horários, sem contar a responsabilidade de resolver ou de ao menos tentar resolver lides reais. É aqui que você percebe a importância de dominar o conteúdo teórico para que sua prática seja mais efetiva.
Você não está diante de um exercício hipotético criado pelo seu professor, mas sim de pessoas de carne e osso que acessaram o judiciário com o objetivo de ter o seu direito exercido. A pegada é totalmente diferente. Você vive o direito, literalmente. A carga de aprendizado aqui não consta em livro algum e não poderia ser diferente.
O papel desenvolvido pelo estagiário no poder judiciário é de extrema importância. Muitas sentenças, denúncias e recursos, apesar de não possuírem seus nomes no carimbo, são feitas por estagiários. Gosto de chamar, em especial os estagiários de escritórios de advocacia, das defensorias, assessorias de tribunais e MP de Ghost Writers do direito, pois muitos não sabem, mas eles sempre estão trabalhando nos bastidores auxiliando promotores, advogados e juízes. Se chamam o judiciário de lento da forma como vemos hoje, imagine se não houvesse estagiários trabalhando na sombra das grandes autoridades. É muita responsabilidade! E isso só vem a acrescentar bagagem jurídica e de experiência de vida para quem topa esse difícil e valoroso desafio.
5. Estagiar durante a faculdade: O início do caminho dos concursos públicos.
Se você optou por escolher estagiar em algum órgão público, de forma remunerada, geralmente eles aceitam estagiários mediante participação em concurso público. Embora alguns órgãos como a defensoria pública e alguns tribunais de justiça aceitem o ingresso sem concurso, mediante a participação do estagiário na condição de voluntário, a grande maioria dos órgãos públicos que fornecem bolsa de estágio exige que seus futuros estagiários ingressem mediante participação de um certame
O molde desse certame é bem parecido com os concursos públicos de servidores. O órgão publica o edital contendo as disciplinas, fornece prazo para que os candidatos se preparem, exigem as vezes taxa de inscrição e abrem prazo para recurso dos gabaritos. A diferença é que sua aprovação no concurso de estagiário não tem o condão de conceder a estabilidade no serviço público, uma vez que o contrato de estágio é de até dois anos ou até a formatura do estagiário no curso.
Existem dois excelentes sites para ficar por dentro dos certames abertos para estágio em órgãos públicos. O primeiro deles é o portal do CIEE. A partir do momento em que você conclui o seu cadastro no portal, você receberá notificações por e-mail assim que algum estágio de sua região tiver certame com inscrições abertas, além de outras oportunidades.
Outro site muito bom para acompanhar a relação de processos seletivos de estágio na área jurídica é o portal PCI concursos. Bastante conhecido pela comunidade dos concursandos, o PCI possui uma área em seu site dedicada exclusivamente à divulgação de concursos de estágio com inscrições abertas em todos os Estados do território nacional. Para ter acesso à essa relação não é necessário realizar cadastro algum, basta acessar o menu de estágios e conferir.
Assim, você já vai se acostumando a participar de concursos públicos e internalizando o sentimento de conseguir subir os degraus da profissão com suas próprias pernas. É muito bom saber que você entrou pela porta da frente num determinado local, sem jeitinho e sem famoso QI.
E por fim você ainda recebe uma bolsa de auxílio. Tudo bem que não é lá essas coisas, mas já ajuda a comprar uns livros, tirar uma xerox, a pagar a faculdade se for o caso ou seja lá como você quiser gastar, afinal quem passou foi você e a bolsa é sua e você faz o que quiser, hehehe.
O que importa é ter noção de que nesta etapa da vida o retorno financeiro é o que menos importa. Estágio foi feito pra fornecer aprendizado e não pra servir de ostentação – até porque a última coisa que estagiário universitário faz é ostentar. Se bem que comparando alguns estágios com outros dá até pra tirar uma onda, mas isso é tema para os próximos capítulos.
Considerações finais
Num curso com carga teórica tão densa quanto o de Direito, ter contato com a realidade torna a própria teoria mais digerível e mais humanizada. Visualizar como as lições aprendidas nos bancos da faculdade são de fato implementadas nos tribunais ajuda até mesmo a fomentar um senso crítico maior acerca dos inúmeros problemas que gravitam na órbita da prestação jurisdicional.
No final do curso você terá uma formação jurídica e humanista muito mais consolidada do que vivesse apenas no mundo dos livros.
Além disso, dá para ganhar uma graninha e começar a comprar seus livros com seu dinheiro.
A vida real dos corredores e salas de audiência fornecem mais maturidade ao estudioso ou estudiosa das letras jurídicas, servindo como forma de harmonizar o que se é aprendido e o que é aplicado. De forma alguma a teoria deve ser subjugada pela prática, muito pelo contrário, a prática visa justamente ampliar seu conhecimento teórico e até mesmo fornecer meios de críticas ao que te dizem ser certo ou errado nas inúmeras doutrinas das mais variadas matérias da jurisdição.
Espero que o post tenha sido útil para você. Caso você já tenha estagiado e queira acrescentar motivos ou ate mesmo fazer algum adendo, sinta-se à vontade. Até a próxima!